segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Entrevista com Paulo Fanha

Retomando tempos anteriores, voltamos a efectuar entrevistas com personalidades do xadrez luso. O nosso próximo convidado é Paulo Fanha, um dos amantes da modalidade e um dos grandes animadores do nosso xadrez nos últimos meses.


Chess is Life (CL): A primeira pergunta que te faço é de cariz mais pessoal. Quem é o Paulo Fanha, os seus sonhos, as suas motivações, etc? Não é todos os dias que vemos alguém a abandonar o país por causa do xadrez. Como te definirias enquanto pessoa?

Paulo Fanha (PF): Sinceramente, não te posso responder de forma cabal quem é o Paulo Fanha. Por uma razão simples: eu próprio não sei! E porquê? Esquecidas as “certezas” da juventude, dou comigo a descobrir em mim facetas que eu próprio desconhecia.

A minha história pessoal acaba por estar intimamente ligada à história recente do país. Se por um lado, a descolonização provocou a minha vinda para a Metrópole (eu que nasci na Província Ultramarina de Moçambique), por outro lado, a crise económico-financeira, acentuada desde 2011, forçou a minha saída para o Estrangeiro. Os sonhos e os planos para os atingir, foram sistematicamente destruídos por factores exteriores à minha acção. Até que já não havia mais sonhos…

Como é do conhecimento comum, eu era professor de Ciências Físico-Químicas. Era o que eu gostava de fazer. E penso que o fazia bem... Os meus ex-alunos, mais isentos na sua avaliação, serão com certeza melhores juízes sobre isso. O problema é que já tinha tantos problemas fora da sala de aula (desde o aumento do número de horas de trabalho, não apenas não remuneradas, mas ainda cortado no vencimento), que o meu grau de satisfação atingiu valores mínimos. Perante a perspectiva de deixar de ser tão bom no que fazia e vendo o tempo a passar por mim (45 anos, sem família e de todo insatisfeito), tinha que tomar uma decisão.

Primeiro pensei montar o meu próprio negócio em Portugal. Depois, fiz as contas e tive um choque com a realidade: nenhum empreendimento de baixo custo e legal poderia ser lucrativo nesta conjuntura. Eu sou um profissional qualificado em áreas tão diversas quanto as Ciências Puras, a Matemática, a Gestão e falando 6 línguas. Certamente que poderia ser valorizado qualquer outra parte do mundo. E felizmente, tive razão!

A minha primeira ideia era ir para Inglaterra. Um bom domínio de Língua e algum conhecimento do mercado eram pontos fortes. Depois, conheci a Ekaterina, agora minha esposa, russa, que me pretendia trazer para paragens mais frescas. O que eu vi como uma oportunidade de fazer evoluir o meu xadrez! Não foi pelo xadrez que saí de Portugal (a decisão de sair estava tomada); mas também foi pelo xadrez que vim para Moscovo.

Agora tenho apenas pequenos sonhos. No plano pessoal, constituir família e alcançar a estabilidade financeira que me foi retirada em Portugal. No plano desportivo, acredito que ainda só comecei a subir. Mas sobre isso falarei mais adiante!

Enquanto pessoa, creio que endureci um pouco nos últimos anos. Não que eu me considere má pessoa! Sinto, contudo, que perdi alguma da minha ingenuidade e tenho-me tornado extremamente pragmático. As coisas são como são e é dentro dessas balizas que tenho que viver o melhor que puder e souber. Já não tenho as ilusões de que possa mudar o mundo e, portanto, mudo eu para melhor me adaptar ao mundo.

CL: Como entra o Paulo Fanha no xadrez e se pudesses dividir a tua vida na modalidade em 3, 4 etapas, como o farias?

PF: 1- Até 2005, empurrava umas peças.

2- Até 2014 acumulei o empurrar de peças com outras funções (ensino, treino, árbitro, dirigente, coordenador nacional do xadrez escolar, etc.)

3- Em 2015 tomei a decisão de me “tornar jogador”. Trabalho desde Janeiro com um Grande Mestre que é um Treinador FIDE Sénior, ensino xadrez em algumas escolas de Moscovo e defini objectivos ambiciosos ao nível desportivo. Dos primeiros três, só não alcancei um. Não consegui ser Campeão Europeu Amador (quedei-me por Vice Campeão) , mas alcancei o título de Candidate Master e venci o meu primeiro torneio em Moscovo. Mais à frente, falarei sobre os meus próximos objectivos. Naturalmente muito mais ambiciosos.

CL: Pelo que sei (e corrige-me se estiver enganado), já tiveste várias funções no xadrez (dirigente, treinador e jogador). Podes-nos historiar um pouco o que já fizeste no xadrez e onde?

PF: Como dirigente, as minhas incursões foram breves. Mas algumas relevantes:

1- Fundei o Brandoa United, um clube exclusivamente de xadrez, que mais não era do que um clube onde jogavam os meus alunos das escolas da Brandoa. Na escola, recebi uma “reprimenda” porque o Desporto Escolar não estava vocacionado para a prática federada. E o clube acabou! No ano seguinte, o Desporto Escolar teve a ideia “inovadora” de promover a prática federada…

2- Criei o Centro de Referência/Escola de Excelência (as designações variavam de acordo com os devaneios da Tutela) de Xadrez da Brandoa.
3- Desempenhei interinamente (não eleito) as funções de Vogal na Associação de Xadrez de Lisboa, sob a Presidência da Maria Armanda Plácido, juntamente com o Luís Alves e a Catarina Leite.

4- Fui o primeiro Coordenador Nacional do Xadrez Escolar e quem criou e implementou o primeiro quadro competitivo nacional do Xadrez Escolar em 2009. Numa perspectiva de continuidade, já tinha alinhavado a participação de uma equipa portuguesa (com financiamento privado assegurado - sem custos para o erário público, portanto) no Campeonato Europeu Escolar. Fui então informado pelo Desporto Escolar que, por sugestão da Direcção da FPX de então (presidida pelo Dr. António Bravo), eu seria substituído nas minhas funções. E assim foi.

5- Treinei e ensinei xadrez durante uma década na Brandoa.

6- Fui secretário do Conselho de Disciplina da FPX.

E certamente que me terei esquecido de mencionar algumas outras das funções que desempenhei…

CL: Obviamente que a pergunta do momento impõe-se. Quais foram as motivações que te levaram a abandonar o país e ir para a Rússia jogar xadrez? E mais importante, como está a correr essa aventura?
Quais são os teus objectivos imediatos e futuros com esta decisão que tomaste?

PF: Seguindo os conselhos do primeiro-ministro, abandonei a minha “zona de conforto” e vi nisso uma “oportunidade” para mudar de vida. Na verdade, eu sentia-me mais a vegetar do que a viver. Tomar esta decisão teve tanto de brutal (abandonar amigos, amigas, família e um país que adoro), como de providencial. Rejuvenesci e readquiri “ganas” que há muito não tinha.

Tudo em Moscovo é fascinantemente estranho. Os dias são estranhos. Ou tenho noite o dia todo (lá para Dezembro), ou tenho luz o dia todo (lá para Junho). A forma como as pessoas se relacionam também me é estranha. A cultura, primeiro estranha-se, mas depois entranha-se! A cidade é bonita. E as moças também!

A cultura de xadrez é impressionante. Qualquer idoso a jogar num jardim demonstra conceitos de jogo. As provas têm um nível como eu nunca tinha visto. Perder com dois putos com idade para serem meus netos numa semana (em 2014), foi um bom incentivo para melhorar! Não tenho dúvidas que vir para Moscovo foi a melhor decisão que tomei a favor do meu xadrez. Evoluo aqui em meses o que não consegui evoluir em Portugal durante anos.

Neste momento, tenho dois objectivos de curto prazo e um de médio prazo:

1- Vencer o Campeonato do Mundo Amador, sagrando-me com isso Mestre FIDE (já em Abril próximo).

2- Qualificar-me para a Fase Final do Campeonato Nacional Absoluto (em Julho).

3- Estar em condições de poder representar Portugal nos Jogos Olímpicos de Inverno em 2018 (Pyongyang).

CL: Consegues-nos descrever um dia a dia típico nesta tua nova vida?

PF: Tipicamente, acordo de manhã, faço o que toda a gente faz e preparo as minhas aulas no computador. Aqui ensino Xadrez, Matemática e Ciências. Vou para as escolas e almoço por lá. Isto implica apanhar transportes públicos (confortáveis e baratos comparativamente a Lisboa) e andar pelo menos meia hora na ida e outro tanto na vinda. O que se faz muito bem quando a neve e o gelo assim o permitem.
O gelo provoca-me grande desconforto, porque este pessoal desliza graciosamente sobre ele. Eu tenho que me esfoçar para não ir ao solo.
Ao fim da tarde, regresso a casa. Vejo filmes ou séries no tuga.io na companhia da Kátia. Na RTP Internacional só dá para ver telejornais, bem como na TVI. Tudo o resto, está bloqueado desde Portugal…

Mas posso ver os jogos do Benfica em casa em HD (pay-per-view da BTV - que eu não sou Inácio); os outros vejo no portátil, uma vez que nenhuma das operadoras que transmitem a Sport Tv me apresentou nenhuma proposta razoável.

Uma vez por semana, tenho uma aula de duas horas online com o meu treinador. Até agora, só podia jogar xadrez ao fim de semana. Agora abriram (mais) um clube perto de mim.

CL: O que achas do desempenho da FPX?

PF: No meu tempo de vida, nunca vi uma Direcção da FPX que não fosse contestada. Com maiores ou menores razões. Pessoalmente, não tenho motivos objectivos de queixa sobre esta em particular. É uma coisa muito portuguesa criticar sem apresentar alternativas concretas. Creio que lidaram muito bem com a salganhada que resultou de todas aquelas “primeiras divisões” que havia e não creio que as situações pontuais em que discordei sejam suficientes para não considerara sua acção como globalmente positiva. Parece-me difícil exigir mais a uma estrutura não profissionalizada. Eu próprio já senti na pele a acção da crítica sem intenções construtivas, pelo que não vejo razões para me perfilar entre os que se manifestam contra esta Direcção.

Claro que ouvi histórias, que até admito que possam ser verdadeiras, que poderiam (ou deveriam) ter sido resolvidas de outra maneira. Mas o erro é humano e todos os comentemos. E é impossível tomar decisões sem desagradar a alguém.

De qualquer modo, as eleições para a FPX são democráticas. E se houver mesmo tanta gente que pense poder fazer melhor, terão sempre a possibilidade de apresentar as suas propostas, apresentar alternativas e, se o sufrágio lhe for favorável, fazê-las cumprir.

Qualquer que venha a ser a Direcção eleita para o próximo mandato, espero que possa desempenhar as suas funções com a colaboração positiva de todos. Somos demasiadamente poucos para perdermos tempo e energia com guerras de capelinhas. Espero que se discuta mais as acções e menos as pessoas. A instituição FPX tem que estar acima de interesses pessoais.

CL: Acreditas que podes chegar a titulado (mínimo 2300)?

PF: Não tenho dúvidas sobre isso! Idealmente, poderei ser Mestre FIDE já em Abril. Acredito ainda que atingirei os 2300 antes do final de 2017 e, entretanto, admito a possibilidade de poder lutar por normas de Mestre Internacional. Se me perguntares lá mais para o meio do próximo ano, talvez eu possa redefinir estes meus objectivos em alta.


Perguntas rápidas

Melhor amigo do xadrez: Ângelo Almeida. Um ex-aluno meu que é para mim muito mais do que isso.

História engraçada do xadrez:

Há alguns anos atrás, eu ia defrontar uma adversária teoricamente mais forte que eu não conhecia. Aparece-me uma curvilínea mulher, lindíssima, que me deve ter provocado algum involuntário espanto. Ciente disso, e enquanto me cumprimenta com o protocolar aperto de mão, diz-me que “Se não me comeres as peças, também não me comes mais nada”. Fiquei silenciosamente furioso, enquanto me sentia a enrubescer!

Agora era uma questão de honra, de vida ou de morte. Eu morreria no tabuleiro se tivesse que ser, mas a vitória tinha que ser minha! Joguei melhor, venci e, enquanto a cumprimentava com o aperto de mão final, não resisti a indagar “As peças já te comi… E agora o resto?”.

Moral da história: Se não lhe comer as peças, não lhe como mais nada; mesmo que não lhe coma mais nada, pelo menos que lhe coma as peças…

Melhor vitória: mais pelo emocional que pelo factual, Fanha x Velioniskis, (Kaunas, 2015). Com alguma nota artística, este foi o jogo onde, durante minutos, ainda fui Campeão Europeu Amador. Depois, os jogos dos meus adversários anteriores viraram a meu desfavor.

Pior derrota: talvez há 26 anos atrás. Perdi com o Afonso Rodrigues num Campeonato Distrital de Jovens e, com isso, nunca me apurei para a Final de um Campeonato Nacional Jovem.

Melhores torneios: Kaunas, 2015 (pelo título), Porto Carras, 2015 (pelo ambiente). Em Portugal, adorava o extinto Damiano de Odemira..

Obrigado Paulo, pela entrevista e votos de muitos sucessos!


Paulo Fanha num torneio oficial em 2012

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

FM Vasco Diogo - GM António Fernandes Nacional Absoluto 2015

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

terça-feira, 8 de março de 2011

“O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade.”

Citação de Albert Einstein


Desporto deve ser uma festa!

Neste momento as pessoas devem-se estar a interrogar: o que tem a ver citação de Albert Einstein, com o facto do desporto ser uma festa? Tudo e nada ao mesmo tempo.

Nestes dias de férias de Carnaval desenrolou-se o distrital de Aveiro de jovens. Para mim o desporto jovem tem de ser festa. Aliás nem pode ser doutra maneira. Provavelmente a maior parte dos jovens vai deixar de jogar xadrez daqui a uns anos, e o que vai restar ai?

Os bons momentos, o companheirismo, a amizade a competição salutar e sentir que a prática de uma modalidade desportiva foi importante para a nossa formação social e pessoal. Infelizmente o que verificamos hoje em dia é a rivalidade doentia, a competição desleal, o tentar ganhar a todo o custo, como se a consequência fosse mais importante que a causa.

Praticar desporto e fazer algo que gostamos tem de ser mais importante que 1 mero troféu que possamos ganhar e guardar na arrecadação da nossa casa.

Isto a propósito dum episódio que felizmente não presenciei, mas que me foi contada por diversas pessoas da organização e mostra ao que chegou o nosso país em termos de degradação de valores sociais, morais e éticos.

Na parte final duma das sessões um RESPONSÁVEL de um clube - frisei a negrito e em letras maiúsculas, porque pela palavra responsável entendo como alguém que seja um exemplo de confiança, respeito e dignidade para os demais - estando momentaneamente autorizado a permanecer numa área restrita aproveitou o facto de um jogador SUB-10, e escrevo novamente a negrito para não haver dúvidas SUB-10 de outro clube perdesse contra um jogador do seu clube para muito alto dizer as palavras. “TOMA. BEM FEITO” Meu deus! É mesmo verdade? A nossa sociedade chegou mesmo a esta ponto execrável? Pessoalmente não me surpreende, porque este elemento ao longo dos anos sempre me habituou a comportamentos desta natureza... O que realmente me deixa chocado, e aí entra a citação acima descrita, é como é possível as pessoas de bem permitirem situações destas.

Da parte da organização, apesar do aviso que tais comportamentos não seriam mais tolerados, continuou a permanecer no recinto de jogo como se nada se tivesse passado.

Da parte dos pais, tudo aparentemente normal, como se qualquer vitória fosse mais importante que o desenvolvimento cívico do ser humano. Além do mais quem pode garantir que amanhã não será a outro adversário, outrora companheiro de equipa?

Da parte da entidade empregadora, será possível e admissível ter nas suas fileiras alguém que proporcione um exemplo tão mau a jovens?

O jovem que ouviu o energúmeno naturalmente impressionável, pela sua tenra idade chorou. Mas e o jovem que ganhou, que certamente também ouviu: Que terá pensado? Ganhar acima de tudo? Ou companheirismo e amizade?


Fica para cada um a resposta.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Carta Aberta de um Xadrezista

Gostaria de publicar uma carta aberta duma pessoa que apesar de pessoalmente nunca ter tido muito contacto, possuo excelentes referências.
Sem querer entrar em polémicas desnecessárias penso ser um documento que nos deixa a reflectir sobre o futuro da modalidade em Portugal.

"Santarém, 20-12-2010

Tive sérias dúvidas se deveria ou não escrever este texto...

Confesso que tenho muito pouca paciência para discutir regulamentos, associações, federações, legalismos bacocos, e demais atentados contra a liberdade no xadrez.

Os regulamentos e legislação devem existir para servir uma comunidade e nunca o contrário.

Entendo as diversas organizações como forma de aglutinar TODOS os xadrezistas e não como matéria de divisão.

Confesso ainda que li na diagonal todos os mails que me foram endereçados pelo Rúben Elias, e que a maioria são coincidentes com a minha posição desde o primeiro momento.

Quero esclarecer apenas que me fartei do xadrez de cordel em que a FPX se transformou após a saída do Dr. Luís Costa.

Sobre este presidente, quero esclarecer que admito que tenha cometido inúmeras ilegalidades, que por vezes o tomasse como tendo ideias megalómanas, mas de uma coisa nunca duvidei: o homem gostava de xadrez (à sua maneira) e procurou elevar dentro das suas possibilidades o xadrez a um patamar superior.

Se o conseguiu ou não, não me compete analisar. Haverá certamente pessoas muito mais habilitadas do que eu.

A minha opinião pessoal é que com todas as vicissitudes de forma, esse presidente procurou o que achava melhor para o xadrez, e mais importante, ouviu os xadrezistas e as suas propostas, independentemente do mais absurdas que pareciam ser.

Relembro a discussão que na altura tive com ele, acerca da forma de comunicar os resultados dos encontros dos nacionais por equipas.

Esgrimimos argumentos, eventuais problemas, e no final reconheceu que a minha proposta era a correcta, e ainda hoje está em vigor.

A partir daí, comecei a ver a Direcção da FPX como uma dança de cadeiras ocupadas por autistas que se julgavam estar muito acima dos xadrezistas e dos clubes!

Grupos de interesses, pessoas bem intencionadas que foram “nokauteadas” e abandonaram a modalidade, e muitos bajuladores com interesses directos e que adaptam os regulamentos e as iniciativas, aos seus interesses pessoais/grupais.

Por diversas vezes, e através de diversos meios fiz chegar propostas do que deveria ser a competição em Portugal.

Na maior parte das vezes, o que consegui foi animosidade como se o meu interesse fosse apenas dizer mal.

Disso fui acusado, e de muitas outras coisas, inclusivé de procurar protagonismo...

Só quem não me conhece, e que não faz ideia do meu perfil pessoal o pode dizer.

Mas tudo valeu! De tudo fui acusado, e tudo serviu, inclusivé atacar, e prejudicar um clube que tenta sobreviver sem qualquer apoio estatal ou privado.

Mas passemos ao que interessa que a introdução já vai longa...

Há 3 ou 4 anos fui provavelmente a primeira e única pessoa a insurgir-me contra um regulamento feito em cima do joelho e que nada tinha a ver com os legítimos interesses da maioria dos xadrezistas ou dos clubes.

Procurei numa 1ª abordagem chamar os responsáveis à razão de uma forma divertida e que não melindrasse ninguém.

O humor é talvez a única forma que conheço do fazer...

Fiquei a falar sózinho e nessa altura nem reacções negativas sofri. Simplesmente fui ignorado!

Depois, passei a demonstrar a forma como o famigerado artigo 36º foi aprovado ( à boa forma partidária) , quais os votos a favor, quais os votos contra (Zero!!!) e os votos “nim”.

Aí, já a coisa piou mais fino!

A “golpada” foi desmascarada e alguns já saltaram da toca. Os interesses tinham sido postos em causa! Os responsáveis nunca deram a cara e mandaram os seus lacaios como tropa de choque.

A FPX em nome “dos jovens” passou a alimentar uma série de pessoas e os resultados financeiros e competitivos estão à vista!

Muito haveria a dizer sobre a relação custo/benefício,mas isso ficará para outros...

Relembro apenas que foi proposto um modelo de competição que não só resolveria a actual situação de polémica em que ninguém se entende, como, no futuro seria um modelo adaptado à situação portuguesa.

Faço só notar que o modelo “futeboleiro”, com 3 divisões e distritais só deveria ser aplicado com centenas/milhares de equipas.

Num panorama como o nosso, a pirâmide não se justifica.

Não temos equipas suficientes e com qualidade que alimentem o modelo.

Mas, acredito que a situação ainda irá piorar.

A partir de agora, além da claúsula polémica, vamos ter mais torpedos para afundar o xadrez!

Com a exigência de que todos os clubes apresentem estatutos e publicações em Diário da República, vamos assistir a que mais umas dezenas de clubes com situação irregular desapareçam da competição.

É o custo da subsidio-dependência deste Estado irracional.

Para concluir, quero apenas dizer-vos que escusam de me responder, ou de procurar envolver-me em qualquer tipo de polémica.

Para esse “peditório” já dei! Não quero protagonismo, nem pretendo continuar a ser um “Quixote do xadrez”.

Espero apenas que reflictam, que pensem no interesse de toda uma comunidade: xadrezistas semi-profissionais, amadores, clubes semi-profissionais e clubes totalmente amadores.

Este nobre jogo, ou desporto, merece que não o deixem morrer. O xadrez está muito acima de FPX’s, IDP’s, APMX’s e outras siglas que pouco me dizem.

Eu, retiro-me, e esta será provavelmente a última vez que ouvirão falar num tipo chamado António Russo, que era federado, que sempre gostou muito de xadrez, mas que se fartou de todo o cenário dantesco que o envolvia.

Deixo de ser federado, e por isso não tenho o direito de opinar sobre os meandros federativos.

A todos os que verdadeiramente gostam de xadrez, e que sei que são muitos, aqui vai o meu abraço.

António Russo "

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Análise Partida José Padeiro-António Lago

Após alguns meses de pouca actividade do blog, reconheça-se, vou falar um pouco do que realmente interessa, ou seja, da acção sobre as 64 casas. A partida que irei analisar diz respeito ao último jogo da 2ª divisão que opôs o MCP ao AMAS II.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Organização de Torneios de Xadrez

Antes de começar este meu artigo de opinião queria demonstrar todo o meu apreço pelas pessoas que abdicam do seu tempo para permitir que pessoas como eu possam jogar torneios. Apesar disso acho que se instalou um ciclo vicioso no xadrez português que em nada vai permitir a sua evolução.
  • No domingo passado desloquei-me a Coimbra para jogar um torneio de semi-rápidas. Sem querer ofender ninguém a organização foi simplesmente catastrófica. Aconteceu um pouco de tudo: desde os habituais locais inadequados para a prática da modalidade e atrasos inconcebíveis antes da 1ª jornada (que me custa sempre entender o motivo) - até aos pouco usuais atrasos na 1ªronda da parte de tarde, cobrança de inscrição a jogadores titulados e a incrível espera de quase 1 hora na entrega de prémios.
O que eu penso é que a maior parte de organizadores acreditam genuinamente que nos estão (jogadores de xadrez ) a fazer um grande favor. Nós somos os pobres coitados que todos os dia devemos agradecer a Deus e seus apóstolos existirem almas caridosas que nos permitam jogar um torneio de semi-rápidas de 3 em 3 meses.

Uma das coisas mais tristes que observo na envolvência da modalidade é o desprezo da pessoa comum relativamente ao jogo. Mas como podemos nós condenar tal, quando são os próprios agentes da modalidades a maltratá-la?

Acho que, só quando os jogadores de xadrez, cansados destas situações, começarem a pouco e pouco a desertificar os torneios é que os organizadores vão compreender que se o xadrez é uma arte, deve ser tratado como tal e proporcionar as condições necessárias para que seja possível a sua máxima expressão.

Para terminar uma última deixa: o trabalho de realizar uma tarefa bem feita é o mesmo de realizar a tarefa de maneira incorrecta.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Medidas para melhorar o xadrez em Portugal

Neste momento o xadrez em Portugal padece de vários males. Os dois principais são visíveis: falta de fundos para investir e em consequência um quadro competitivo claramente insuficiente. Além disso o quadro existente não é adequado às nossas necessidades e realidades.
Sendo assim propunha estas medidas como forma de reabilitação do nosso xadrez.

1. Aumento das taxas de filiação
Eu sugeria um aumento significativo das taxas de filiação. 24 euros para os seniores, 12 euros para os jovens a partir dos sub-14, 4 euros para os restantes. Em contrapartida a Federação obrigava-se a entregar uma revista a cada jogar num determinado período de tempo a determinar.

Vantagens:
-A 1ª vantagem seria clara, o aumento de receita que poderia melhorar em quantidade e qualidade o quadro competitivo.
- Passar uma imagem que o xadrez é um desporto forte e que não é necessário quase que pagar para termos jogadores.
- A certeza que a revista iria ser bastante útil e consequente aumento técnico dos jogadores, principalmente dos jovens.

Desvantagens:
- Possivelmente a curto prazo o número de jogadores iria diminuir, mas não me conseguem fazer acreditar que quem realmente gosta do jogo, iria deixar de se federar por causa uma taxa de 2 euros por mês. Provavelmente a médio e longo prazo os jogadores que se iriam perder seriam recuperados.

Esta medida parece-me fundamental, neste momento não vislumbro outra maneira de a curto prazo angariar receitas que possam melhorar o nosso quadro competitivo.

2. Alterar o modelo dos Nacionais de Jovens
O actual modelo de Nacionais de Jovens está completamente desfasado do que deve ser um torneio de formação de jovens valores. Neste momento o que assistimos são a campeonatos de qualidade muito duvidosa, principalmente em escalões mais baixos, poucas rondas para determinar o escalonamento correcto dos valores e rondas duplas para aumentar o grau de lotaria. E compreensível que o Nacional de Jovens seja uma festa do xadrez em Portugal, mas é necessário encontrar um equilíbrio. O que eu propunha era uma fase final fechada entre os 8 primeiros classificados de cada escalão ( talvez nos sub-18 e sub-20 tal não se justificasse ).


Vantagens:
- Maior justiça na classificação
- No espaço que intermedeia a fase de apuramento e a fase final, os jovens teriam um incentivo extra para se dedicar ao jogo, e como consequência existiria um aumento do nível técnico.


Desvantagens:
- Os custos iriam aumentar, mas se não investimos nos nossos jovens, investimos em quem?

3. Apoios aos melhores Jogadores Nacionais
Esta medida é mais importante que as pessoas pensam. Não adianta formarmos jovens valores, e o valor médio do jogador em Portugal aumentar, se em contrapartida o que lhe podemos oferecer e 0 ou quase 0. Neste momento ironicamente é mais divertido ter 1600 que 2100, 2200 ou 2300 em Portugal! O motivo é claro, não existem torneios adequados para os jogadores dessa faixa de elo.
Os apoios podem ser de vários níveis, desde financeiros a participação em torneios com vista a obtenção de normas.


Vantagens:
- O nível em Portugal iria aumentar exponencialmente, e os nossos jovens iriam finalmente poder acreditar que existiria uma recompensa pelo trabalho.


Desvantagens:
-Não encontrei nenhuma.

4. Reformulação da 1 divisão Nacional por equipas
A 1ª divisão é um torneio aberrante. Não há que ter meias palavras. Qual é a lógica de durante 9 dias termos jogadores fortes a competir no nosso país se isso não traz uma mais-valia nem reflecte o estado do nosso xadrez? Serve somente para os dirigentes se vangloriarem que possuem uma equipa na 1ª divisão. Eu pessoalmente acho que os estrangeiros são úteis, mas é necessário existir um maior equilíbrio. Proponho o seguinte: todos os clubes da 1 divisão seriam obrigados a efectuar um torneio aberto em que seria necessário que os jogadores da equipa participassem.


Vantagens:
- Os jogadores fortes que participam na 1ª divisão, iriam realmente ser uma mais-valia para o xadrez nacional, porque iriam estar em contacto com os jogadores portugueses.
- Iria diminuir o número de clubes fantasma ( clubes que só têm actividade 9 dias por ano)

Desvantagens:
- Não encontro nenhuma, mas provavelmente a maior parte dos dirigentes dos clubes da 1ªdivisão vai-se opor. E muito mais fácil e mediático gastar dinheiro em jogadores por 9 dias, do que organizar um torneio para a comunidade.


P.S. Devíamos condecorar quem teve a brilhante ideia de aumentar o número de equipas na 1ª divisão, e a obrigatoriedade de possuir escalões de formação. Os resultados brilhantes estão à vista; homologação de torneios feitos à portuguesa, clubes a desaparecer, clubes da 1ªdivisão com faltas de comparência colectivas e individuais, 2 e 3 divisão com nível a decrescer e campeonatos distritais a esvaziarem. Deixo só esta interrogação: tem lógica haver tantas equipas na 1ªdivisão de xadrez como na de futebol? Fica para cada um a resposta.

5. Incentivos à organização de torneios de qualidade
Acho muito útil os torneios que são feitos para a massa crítica em Portugal, torneios direccionados para jogadores entre os 1400 e 1900, mas penso igualmente que é necessário existir um equilíbrio sob pena dos jogadores mais fortes se desmotivarem e irem simplesmente abandonando a modalidade. Dou um exemplo, no distrito onde eu jogo ( Porto ), existem imensos torneios de semi-rápidas onde os melhores jogadores nunca comparecem, e não vejo ninguém a preocupar-se com isso. Porque será? Acho que é fundamental o incentivo à qualidade seja ele de que maneira for feito. E necessário mais torneios como o da Figueira da Foz e Odemira!

6. Criação de departamento de Marketing e Comunicação na FPX
Depois de todas as outras medidas serem tomadas, a imagem do xadrez será mais forte e credível. Nessa altura será fundamental passar essa mesma boa imagem para o exterior, com vista a angariação de apoios que permitam manter ou aumentar o nível.

Nota Final:
Estas medidas não são assim tão difíceis de serem tomadas, é necessário ter coragem, acreditar que seguimos o rumo certo, e deixar de lado as vitórias pessoas e trabalhar em grupo para a vitória da comunidade.

terça-feira, 20 de abril de 2010

A cultura desportiva do nosso país e as suas consequências no Xadrez

Infelizmente o grau cultural do nosso país é baixo e isso acaba por se reflectir no desporto em geral, e no xadrez em particular.

A nossa cultura desportiva está unicamente vocacionada para o futebol, e mesmo dentro dessa modalidade praticamente só contam 3 emblemas. De quem é a culpa?


Os media são os grandes culpados. Se folhearmos um jornal desportivo, 80% é futebol e dentro dessa percentagem metade é concedida aos 3 grandes. Consequências?


Simples: os jovens crescem com histerismo relativamente ao futebol, serão provavelmente adeptos de um dos 3 grandes, tentarão ser jogadores de futebol, a maior parte não conseguirá, os outros desportos serão vistos como o patinho feio e continuarão a ser constantemente marginalizados .

Para mim é impensável que em cidades como Aveiro, Coimbra, Faro para citar alguns exemplos, o clube mais apoiado não seja o da terra, como também é impensável um jogador de futebol duma equipa da 2ªdivisão ser por exemplo mais conhecido que o Frederico Gil.

Agora vamos tentar situar o xadrez neste panorama desolador. Eu cada vez acho mais incrível o mau tratamento que é dada a modalidade por todos. Desde os agentes da própria modalidade ao exterior.

Comecemos pelos dirigentes; a maior parte desconhece a realidade da modalidade, porque não joga xadrez e também não se preocupa muito em conhecer. Muitos dirigentes novos que aparecem são pessoas com desconhecimento total da modalidade e horizontes limitados que se contentam em ser o melhor da rua deles. A partir daí tudo o resto tem grandes probabilidades de correr mal, porque infelizmente essa mentalidade é passada aos jovens que em tenra idade são bastante influenciáveis.

Os jogadores de topo em Portugal provavelmente resignados perante a míngua de apoios e cada vez com menos esperança nesta área vão definhando e jogando cada vez menos.

Os pais pensam que por uma vitória mais conseguida, os seus filhos já são futuros campeões. Mal eles imaginam que o caminho para o topo, exige muito trabalho e não segue uma linha recta.

Organizadores de torneios fortes praticamente não existem, porque o xadrez não é mediático e a partir daí entramos claramente num ciclo vicioso. Para podermos sair dele, só mesmo com um esforço extra de todos nós.
  • A Federação, como entidade máxima, deveria passar uma melhor imagem da modalidade quer interna, quer principalmente externamente. A única maneira de sair do marasmo é com um quadro competitivo forte e para tal são necessários apoios que só serão seguramente angariados com uma imagem duma Federação forte e capaz. Um bom departamento de Marketing e Comunicação é um investimento mais que justificado.

  • Os jogadores de topo têm que fazer um esforço para passar uma melhor imagem de si e da modalidade. Nenhum patrocinador vai querer investir em equipas que não dão o seu máximo e que não são profissionais no seu comportamento.

  • Os dirigentes têm que zelar pelo bem da comunidade em detrimento de vitórias fáceis e sem esforço e chegarem à conclusão que é mais importante ficar em 10º numa prova forte que ganhar a competição de caricas em pista coberta, passe o eufemismo.

  • Os jovens não podem pensar que por ganharem algo que o caminho está terminado, muito pelo contrário ele agora começou. Devem-se mentalizar para o trabalho duro. Aliás, não conheço mais nenhuma modalidade que é possível atingir algum nível com tão pouco trabalho efectuado. Em desportos como a natação ou o ténis por exemplo, são necessários horas e horas de trabalho árduo para poder chegar a um nível aceitável.

Eu pessoalmente não acredito muito na mudança, mas se queremos que o nosso querido desporto seja reconhecido pela sociedade cabe-nos a cada um de nós dar um pouco mais de esforço na consecução de tal objectivo.

Reactivação do Blog

Depois de um período de interregno, volto a activar um blog, com uma reflexão sobre o Xadrez em Portugal.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Entrevista a João Barbosa

O meu próximo entrevistado é um antigo jogador da modalidade João Barbosa. Será provavelmente um nome desconhecido nos meandros do xadrez, mas o que é certo é que no Poker descobriu a sua área de eleição. Deixou o seu emprego para se tornar profissional e neste momento é seguramente um dos jogadores mais conhecidos da modalidade no nosso país.

José Padeiro (JP): João Barbosa, obrigado por teres aceite o convite. A minha 1ªpergunta é linear; Como é que um jogador completamente estagnado no xadrez é neste momento um dos jogadores do momento no poker português, tendo em conta ( opinião minha ), que é mais difícil chegar ao topo no poker que no xadrez?

R: Não concordo que seja mais difícil chegar ao topo no poker, são jogos com características muito diferentes e exigem também virtudes diferentes nos jogadores. A minha paixão pelo poker sempre foi muito mais forte e puxou muito mais por mim do que no xadrez onde tinha perdido a motivação para me dedicar nos últimos anos que joguei. Penso que o xadrez exige um estudo muito mais profundo e prolongado enquanto que no poker a evolução pode ser muito mais rápida porque não exige cálculos tão profundos, mas sim raciocínios mais abstractos por ser um jogo de informação incompleta.

JP: Jogaste xadrez, passaste pelo bridge e agora jogas poker. Que semelhanças encontras? Tens saudades de jogar xadrez ou bridge ou são mesmo etapas ultrapassadas?

R: O xadrez não me deixa muitas saudades. Sei que nunca chegaria ao topo e não me motiva jogar sem essa ambição. Com o bridge as coisas são diferentes, é um jogo que adoro mas que suspendi para me dedicar por inteiro ao poker, possivelmente voltarei ao bridge daqui a uns tempos.

JP: Explica-nos como começou a aventura do poker? Se tivesses que dividir a tua carreira em 5 passos como farias essa divisão?

R: É difícil escolher passos numa evolução que é contínua, mas de qualquer forma foi mais ou menos assim:
- Comecei por jogar fixed limit holdem em 2005, decidi encomendar uns livros online e a estudar o jogo
- Uns meses mais tarde mudei para jogar principalmente no-limit holdem, fundamentalmente torneios e sit&go
- 2007 Abriu o poker nos casinos em Portugal, rapidamente me tornei cliente assíduo no casino de espinho.
- Início de 2008, profissionalização e dedicação quase só a cash games de no-limit holdem online. em consequência dos bons resultados e das promoções oferecidas pelo pokerpt.com oportunidade de jogar torneios de elevado buy in, vitoria no unibet open de Madrid.
- Participação em todos os torneios da 5ª season do european poker tour, vitoria no EPT de Varsóvia e patrocínio da Full Tilt Poker.

JP: Descreve-nos um dia a dia do João Barbosa durante um torneio de poker? Fazes alguma preparação especial, ou esperas simplesmente que o teu talento desabroche nas mesas de poker?

R: Não faço preparação especial para além de gerir o meu descanso nos dias anteriores para estar nas minhas melhores capacidades e aguentar sessões que podem durar até 10 horas. Quando chego a fases adiantadas nos torneios internacionais, por vezes informo-me do background dos meus adversários para saber com que tipo de jogador devo contar.

JP: Existe alguma imagem de marca tua nos torneios? Já ouvi falar dum famoso bloco. Foi inovação tua? Em que consiste?

R: Por vezes utilizo um bloco para apontar as minhas jogadas durante um torneio, mas não creio que possa chamar inovação a um bloco, é em tudo semelhante a um jogador de xadrez apontar uma partida.

JP: Imagina que aparece alguém que te diz que quer viver do poker. Que sugestões /conselhos lhe darias?

R: Depende muito de que ponto essa pessoa queria partir, se já jogava e com que resultados. Mas de qualquer forma aconselharia muita prudência e um grande controlo da ambição para dar um passo de cada vez.

JP: Preferes jogar ao vivo ou pela net? Quais achas que são as grandes diferenças?

R: Jogo bastante mais online do que ao vivo, se tivesse que escolher jogaria só online porque pelo número de mãos e de torneios que se joga é mais fácil ter consistência. Também gosto de jogar ao vivo mas é sempre no espírito de não contar com nada e tudo o que vier é bom.

JP: Ficas triste de nunca ter atingido um nível mais alto no xadrez ou pensas que realmente não é o teu jogo?

R: Não fiquei particularmente triste porque sei que nunca tive a dedicação necessária para subir de nível e talvez realmente não fosse o meu jogo. Quando me senti a ficar para trás acabei por abandonar de vez porque não me motiva jogar sem ambição de ser o melhor.

JP: É natural que o teu nível de vida tenha subido com os diversos prémios que tens ganho. Notas diferenças no tratamento das pessoas? Achas que encaixaste bem nessa mudança, ou por vezes perdes a cabeça?

R: Sinto diferenças em vários aspectos, as pessoas no mundo do poker demonstram bastante admiração o que é uma sensação muito boa. Em relação aos prémios acho que nunca perdi a cabeça, claro que tenho mais facilidades e fui melhorando a minha qualidade de vida quando pude mas sem grandes exorbitâncias.


Perguntas rápidas:
Quantas horas estudas por dia?

Já não estudo muito no sentido de ler teoria e assim. O meu estudo actualmente incide mais na analise das minhas próprias sessões e na auto-crítica. Isso é uma constante, sempre que estou a jogar, sempre que acabo uma sessão.
Quantas horas jogas por dia na internet?
Nos dias que jogo é em média 4 ou 5 horas.
Melhor torneio (poker)
EPT de Varsóvia de 2008. Porque foi a minha maior vitoria
Pior torneio (poker)
World Series of Poker 2008. Porque foi o primeiro grande torneio que joguei e um dos que perdi mais rápido.
Momento que percebeste que o xadrez não era o teu jogo
Desde que subi de escalão especialmente para os sub-18 deixei de estar à altura da concorrência.
Melhor vitória (xadrez)
Campeonato distrital de sub-14.
Momento que acreditaste poder ser profissional de poker
Quando comecei a jogar no casino de espinho, e a ter resultados que rivalizavam por cima com o meu ordenado na altura.



quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Entrevista a Mário Oliveira

O nosso próximo convidado é o actual vice-presidente da Associação de Xadrez de Braga, Mário Oliveira, e responsável por um dos clubes mais activos do norte: o NXVSC –Didáxis ( Núcleo de Xadrez Vale de São Cosme - Didáxis) onde as actividades desenvolvidas podem ser consultadas em www.nxvscdidaxis.blogspot.com .

José Padeiro (JP): Obrigado por teres aceite o convite Mário.
A minha primeira pergunta vai-te certamente fazer pensar…
Quem é Mário Oliveira no xadrez português? Como te definirias, quer como pessoa, quer na envolvência da modalidade?

R:Mário Oliveira é um apaixonado por este jogo-ciência desde os 11 anos. Como jogador conquistei os títulos distritais jovens Sub-14, 16, 18 e 20 e no meu último ano Sub-20 (1998) obtive os meus melhores resultados: 8º lugar no Nacional de Jovens e 2º lugar no Nacional Universitário. Após essa época retirei-me ajudando ocasionalmente o meu irmão, Tiago Oliveira, na dinamização do Grupo de Xadrez Vila Pouca (Guimarães). Reatei esta paixão em 2003, fundando o Núcleo de Xadrez Vale S. Cosme - Didáxis.
Acima de tudo, sirvo (-me) (d)o Xadrez para cultivar amizades, caso contrário, já tinha desistido há muito tempo de promover esta mui nobre modalidade.

JP: Neste momento vês-te mais como jogador ou dirigente?

R: Claramente como dirigente! O “bichinho” de organizar torneios e formar novos valores escaquísticos esteve sempre dentro de mim… A minha cobaia foi o meu irmão que chegou a ser duas vezes vice-campeão nacional de jovens tornando-se uma referência no Distrito de Braga pelos resultados que alcançou a nível individual e colectivo. Sempre gostei de ensinar (sou professor de Matemática) e tentar encontrar diferentes formas e estratégias de transmitir “padrões de conhecimentos” e o ensino do Xadrez esteve, desta forma, sempre dentro de mim. Quando me inscrevi, em 1990, na Escola E.B. 2,3 João de Meira, o professor João Andersen (o meu 1º treinador) encaminhava-me os “casos mais difíceis” encarando esta tarefa como um desafio às minhas capacidades didácticas! Fui o seccionista mais novo de sempre do mítico clube Círculo Arte e Recreio, com apenas 15 anos, onde consegui com um orçamento de zero escudos patrocínios de várias entidades locais assegurando a sobrevivência do clube. A par com o meu colega seccionista, Vítor Matos, organizamos o Campeonato Distrital Absoluto (1993) com o patrocínio da empresa “Águas da Penha” e da Escola Secundária Francisco de Holanda - Guimarães (cedeu as instalações, pagou os prémios, registos de partidas, cartazes…). Escrevia numa máquina de escrever duas vezes por mês notícias e entregava em mão aos jornais e rádios locais e desta forma o Xadrez em Guimarães esteve sempre em dinamismo! A par desta situação ajudei a minha mãe, professora do 1º Ciclo, nas suas turmas (1993-1995) ensinando Xadrez e tentando incutir conceitos matemáticos e abstractos nas suas aulas, quando não se falava de Actividades de Enriquecimento Curricular, hoje obrigatórias em todas as Escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico!
Todavia, no início do NXVSC - Didáxis tive a dupla função de jogador (1º tabuleiro) e dirigente, o que era muito desgastante, mas compensador com as vitórias que íamos obtendo onde destaco a conquista do mais alto título distrital colectivo em 2006: Campeonato Distrital Absoluto (equipas). Nos dias que correm sinto que já não sou necessário no tabuleiro, em termos competitivos, podendo canalizar as minhas energias para aquilo que inicialmente me propus: promover a implantação do Xadrez em Vila Nova de Famalicão e proporcionar aos meus atletas as melhores condições para a prática do Xadrez na participação em Torneios Nacionais e Internacionais.

JP: Sempre foste um entusiasta do xadrez. O que pensas que te faltou quando eras jovem para teres dado um salto qualitativo importante?

R: Faltou-me alguém como eu! (risos)
Agora mais a sério… (pausa)
Faltou-me jogar (mais, muito mais) partidas lentas, pois quando era jovem apenas se jogavam ao fim de semana torneios de Semi-Rápidas / Rápidas.
Jogar um torneio de lentas era um acontecimento quase impossível, exceptuando o Torneio Interno do Clube, Distritais Absolutos, Nacionais de Jovens, Nacionais por Equipas e Taça de Portugal.
Depois sem as novas tecnologias sentia-se um handicap muito grande na análise e preparação de partidas.
Como as minhas energias desde cedo se canalizaram para o dirigismo e formação nunca pude investir como devia no desenvolvimento da minha força de jogo. No entanto, “O Meu Sistema, Aron Nimzowitsch” é um livro que foi lido e aplicado, várias vezes, nas minhas aulas e partidas. Como tudo na vida: “temos de semear para podermos colher”!

JP: Se não estou em erro formaste o teu clube há 6,7 anos. Tem correspondido às expectativas? O que achas que falta para poder chegar ao nível de por exemplo, um Dias Ferreira?

R: Acima das expectativas claramente. A Escola onde lecciono está enquadrada num meio socialmente desfavorecido, onde o projecto Xadrez tinha tudo para falhar! Foram precisos dois anos para convencer o Director Pedagógico da minha Escola em investir 200 euros em material (Jogos, Relógios, Folhas de Anotação…) e inscrever os alunos na vertente Desporto Escolar.
Passados dois meses de divulgação, contando com o apoio da AXDB, através do professor Fernando Castro, e do inigualável seccionista do Grupo Desportivo Dias Ferreira, Vitorino Ferreira, organizei o 1º Torneio (I TORNEIO DO VALE) no último dia de aulas do 1º Período no ano lectivo 2003/2004 que foi um êxito em termos de participação: 112 alunos!
Em Abril de 2004 acolhemos a Final Distrital Escolar com a participação de 180 alunos das Escolas do Distrito de Braga constituindo um acontecimento de boa propaganda para o desenvolvimento do Xadrez na nossa Escola.
Do Desporto Escolar ao Federado foi um pequeno passo com a organização de vários torneios de lentas, promoção de treinos com jogadores mais experientes, intercâmbio entre clubes nomeadamente o GDDF, o que proporcionou aos nossos atletas um desenvolvimento mais rápido da sua força de jogo.
O GDDF é um projecto em que se vive o Xadrez 24 horas diárias, enquanto que o clube que eu dirijo está inserido numa Escola e dificilmente atingirá o patamar deste importante clube matosinhense. Como diz na gíria escaquistíca: “Vitorino só há um, ele e mais nenhum!”… (risos)

Na altura de ingresso no ensino superior abandonaste temporariamente a modalidade. Pensas não ser compatível, os estudos e o xadrez competitivo?

R: O meu abandono deveu-se a outra paixão: a música. Quem me conhece dos Nacionais de Jovens de Xadrez sabe que levava comigo a minha companheira de sempre: “A minha Guitarra”… Na Universidade proporcionou-se a criação (1999) de uma banda, F.R.E.I., em que eu era o letrista e vocalista culminando com a vitória num concurso de bandas e gravação de uma maquete (2003). Após a separação traumatizante (risos) dos membros da banda decidi investir no Xadrez, já que podia conciliar este amor com o meu outro amor: o ensino da Matemática!
Portanto, foram as circunstâncias da vida que me fizeram abandonar temporariamente a modalidade…

JP: Relativamente ao xadrez nacional, o que pensas que pode ser feito para uma maior evolução? O que tens feito tu na própria associação distrital para que essa evolução seja notória?

R: Como já disse é necessário que os jogadores disputem (cada vez mais) partidas lentas, façam uma análise individual e em grupo das mesmas e só deste modo poderá haver uma evolução notória e consistente. Desta forma, penso que é necessário que os Clubes, Associações Distritais e a própria Federação promovam a evolução do Xadrez com base neste denominador comum: promoção e organização de Torneios de Lentas.
A nível da AXDB promoveu-se na passada época competitiva treinos da Selecção Distrital de Jovens, elaboração de um ranking da Selecção Distrital de Jovens sendo atribuído um prémio de 65 euros aos dez primeiros classificados (pode ser descarregado por este link), apoio à organização de Torneios Fechados FIDE nos clubes (só no meu clube organizei dois torneios fechados com 10 e 12 jogadores, respectivamente), lançamento do Anuário de AXDB (da minha autoria podendo ser consultado em: Consulte o Anuário aqui), organização do I Festival de Xadrez do Minho que promoveu a aprendizagem da prática do Xadrez a centenas de crianças de Escolas do 1º Ciclo do Distrito de Braga e um apoio constante a todos os Clubes de Desporto Escolar (cedência de material e formação técnica) do Distrito para que se possam criar condições de criar um clube federado…

JP: Imagina que és eleito Presidente da Federação. Quais são as tuas primeiro cinco medidas?

R: Não há imaginação que encaixe esse cenário na minha realidade! (risos)
Só tomava uma medida: profissionalizava o dirigismo desportivo em termos federativos, tal como em outras Federações com estatuto de utilidade pública desportiva.

JP: Achas que existem condições no nosso país para se poder atingir um nível mais elevado? Pensas que os pais estão preparados para investir nos filhos se necessário for?

R: Penso que sem a primeira medida acima enunciada o nosso país dificilmente atingirá um nível mais elevado…
Relativamente à segunda questão, os pais, na sua generalidade, ainda não vêem o Xadrez como uma modalidade que valha a pena investir. No entanto, percebo as suas atitudes face ao panorama competitivo existente!
No que concerne, aos Encarregados de Educação dos alunos do NXVSC - Didáxis tenho que lhes prestar a minha homenagem, pois desde o primeiro dia têm sido incansáveis em todas as formas de apoio para a expansão e afirmação deste jovem clube no panorama escaquístico nacional! Aproveito a oportunidade para agradecer o contributo da Cooperativa de Ensino Didáxis, da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, bem como, do apoio institucional da Associação de Xadrez do Distrito de Braga no desenvolvimento do Xadrez no Concelho de Vila Nova de Famalicão.

Perguntas rápidas
Decisão mais difícil que tomaste enquanto director do teu clube: Ainda não a tomei!...
Melhor amigo do xadrez: José Curado (Que é feito de ti Engenheiro?) e Vitorino Ferreira & Co (eles sabem quem são!)
Vitória mais marcantes: João Andersen (1995) no Torneio Interno do CAR: “o aluno superou o Mestre!”…
Melhor torneio: Campeonato Nacional de Jovens Sub-20 (1998), 8º lugar.
Derrota mais dolorosa: Nuno Cachada (1995). Ao perder um jogo mais do que ganho perdi a oportunidade de vencer o Torneio Interno do CAR.
Maior alegria que um jogador do teu clube te proporcionou:
João Pedro Costa Ribeiro sagrar-se Campeão Nacional Escolar (2005) na Benedita.
Foi um momento mais emocionante para mim do que para ele (risos)
Para terminar gostaria que deixasses uma mensagem a todos os dirigentes da modalidade.
É importante fazermos o melhor que sabemos e não aquilo que nos convém.
Há outra citação, também, da minha autoria que gostaria de partilhar:
-De que vale haver Vento se não temos Rumo!