quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Entrevista a João Barbosa

O meu próximo entrevistado é um antigo jogador da modalidade João Barbosa. Será provavelmente um nome desconhecido nos meandros do xadrez, mas o que é certo é que no Poker descobriu a sua área de eleição. Deixou o seu emprego para se tornar profissional e neste momento é seguramente um dos jogadores mais conhecidos da modalidade no nosso país.

José Padeiro (JP): João Barbosa, obrigado por teres aceite o convite. A minha 1ªpergunta é linear; Como é que um jogador completamente estagnado no xadrez é neste momento um dos jogadores do momento no poker português, tendo em conta ( opinião minha ), que é mais difícil chegar ao topo no poker que no xadrez?

R: Não concordo que seja mais difícil chegar ao topo no poker, são jogos com características muito diferentes e exigem também virtudes diferentes nos jogadores. A minha paixão pelo poker sempre foi muito mais forte e puxou muito mais por mim do que no xadrez onde tinha perdido a motivação para me dedicar nos últimos anos que joguei. Penso que o xadrez exige um estudo muito mais profundo e prolongado enquanto que no poker a evolução pode ser muito mais rápida porque não exige cálculos tão profundos, mas sim raciocínios mais abstractos por ser um jogo de informação incompleta.

JP: Jogaste xadrez, passaste pelo bridge e agora jogas poker. Que semelhanças encontras? Tens saudades de jogar xadrez ou bridge ou são mesmo etapas ultrapassadas?

R: O xadrez não me deixa muitas saudades. Sei que nunca chegaria ao topo e não me motiva jogar sem essa ambição. Com o bridge as coisas são diferentes, é um jogo que adoro mas que suspendi para me dedicar por inteiro ao poker, possivelmente voltarei ao bridge daqui a uns tempos.

JP: Explica-nos como começou a aventura do poker? Se tivesses que dividir a tua carreira em 5 passos como farias essa divisão?

R: É difícil escolher passos numa evolução que é contínua, mas de qualquer forma foi mais ou menos assim:
- Comecei por jogar fixed limit holdem em 2005, decidi encomendar uns livros online e a estudar o jogo
- Uns meses mais tarde mudei para jogar principalmente no-limit holdem, fundamentalmente torneios e sit&go
- 2007 Abriu o poker nos casinos em Portugal, rapidamente me tornei cliente assíduo no casino de espinho.
- Início de 2008, profissionalização e dedicação quase só a cash games de no-limit holdem online. em consequência dos bons resultados e das promoções oferecidas pelo pokerpt.com oportunidade de jogar torneios de elevado buy in, vitoria no unibet open de Madrid.
- Participação em todos os torneios da 5ª season do european poker tour, vitoria no EPT de Varsóvia e patrocínio da Full Tilt Poker.

JP: Descreve-nos um dia a dia do João Barbosa durante um torneio de poker? Fazes alguma preparação especial, ou esperas simplesmente que o teu talento desabroche nas mesas de poker?

R: Não faço preparação especial para além de gerir o meu descanso nos dias anteriores para estar nas minhas melhores capacidades e aguentar sessões que podem durar até 10 horas. Quando chego a fases adiantadas nos torneios internacionais, por vezes informo-me do background dos meus adversários para saber com que tipo de jogador devo contar.

JP: Existe alguma imagem de marca tua nos torneios? Já ouvi falar dum famoso bloco. Foi inovação tua? Em que consiste?

R: Por vezes utilizo um bloco para apontar as minhas jogadas durante um torneio, mas não creio que possa chamar inovação a um bloco, é em tudo semelhante a um jogador de xadrez apontar uma partida.

JP: Imagina que aparece alguém que te diz que quer viver do poker. Que sugestões /conselhos lhe darias?

R: Depende muito de que ponto essa pessoa queria partir, se já jogava e com que resultados. Mas de qualquer forma aconselharia muita prudência e um grande controlo da ambição para dar um passo de cada vez.

JP: Preferes jogar ao vivo ou pela net? Quais achas que são as grandes diferenças?

R: Jogo bastante mais online do que ao vivo, se tivesse que escolher jogaria só online porque pelo número de mãos e de torneios que se joga é mais fácil ter consistência. Também gosto de jogar ao vivo mas é sempre no espírito de não contar com nada e tudo o que vier é bom.

JP: Ficas triste de nunca ter atingido um nível mais alto no xadrez ou pensas que realmente não é o teu jogo?

R: Não fiquei particularmente triste porque sei que nunca tive a dedicação necessária para subir de nível e talvez realmente não fosse o meu jogo. Quando me senti a ficar para trás acabei por abandonar de vez porque não me motiva jogar sem ambição de ser o melhor.

JP: É natural que o teu nível de vida tenha subido com os diversos prémios que tens ganho. Notas diferenças no tratamento das pessoas? Achas que encaixaste bem nessa mudança, ou por vezes perdes a cabeça?

R: Sinto diferenças em vários aspectos, as pessoas no mundo do poker demonstram bastante admiração o que é uma sensação muito boa. Em relação aos prémios acho que nunca perdi a cabeça, claro que tenho mais facilidades e fui melhorando a minha qualidade de vida quando pude mas sem grandes exorbitâncias.


Perguntas rápidas:
Quantas horas estudas por dia?

Já não estudo muito no sentido de ler teoria e assim. O meu estudo actualmente incide mais na analise das minhas próprias sessões e na auto-crítica. Isso é uma constante, sempre que estou a jogar, sempre que acabo uma sessão.
Quantas horas jogas por dia na internet?
Nos dias que jogo é em média 4 ou 5 horas.
Melhor torneio (poker)
EPT de Varsóvia de 2008. Porque foi a minha maior vitoria
Pior torneio (poker)
World Series of Poker 2008. Porque foi o primeiro grande torneio que joguei e um dos que perdi mais rápido.
Momento que percebeste que o xadrez não era o teu jogo
Desde que subi de escalão especialmente para os sub-18 deixei de estar à altura da concorrência.
Melhor vitória (xadrez)
Campeonato distrital de sub-14.
Momento que acreditaste poder ser profissional de poker
Quando comecei a jogar no casino de espinho, e a ter resultados que rivalizavam por cima com o meu ordenado na altura.



quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Entrevista a Mário Oliveira

O nosso próximo convidado é o actual vice-presidente da Associação de Xadrez de Braga, Mário Oliveira, e responsável por um dos clubes mais activos do norte: o NXVSC –Didáxis ( Núcleo de Xadrez Vale de São Cosme - Didáxis) onde as actividades desenvolvidas podem ser consultadas em www.nxvscdidaxis.blogspot.com .

José Padeiro (JP): Obrigado por teres aceite o convite Mário.
A minha primeira pergunta vai-te certamente fazer pensar…
Quem é Mário Oliveira no xadrez português? Como te definirias, quer como pessoa, quer na envolvência da modalidade?

R:Mário Oliveira é um apaixonado por este jogo-ciência desde os 11 anos. Como jogador conquistei os títulos distritais jovens Sub-14, 16, 18 e 20 e no meu último ano Sub-20 (1998) obtive os meus melhores resultados: 8º lugar no Nacional de Jovens e 2º lugar no Nacional Universitário. Após essa época retirei-me ajudando ocasionalmente o meu irmão, Tiago Oliveira, na dinamização do Grupo de Xadrez Vila Pouca (Guimarães). Reatei esta paixão em 2003, fundando o Núcleo de Xadrez Vale S. Cosme - Didáxis.
Acima de tudo, sirvo (-me) (d)o Xadrez para cultivar amizades, caso contrário, já tinha desistido há muito tempo de promover esta mui nobre modalidade.

JP: Neste momento vês-te mais como jogador ou dirigente?

R: Claramente como dirigente! O “bichinho” de organizar torneios e formar novos valores escaquísticos esteve sempre dentro de mim… A minha cobaia foi o meu irmão que chegou a ser duas vezes vice-campeão nacional de jovens tornando-se uma referência no Distrito de Braga pelos resultados que alcançou a nível individual e colectivo. Sempre gostei de ensinar (sou professor de Matemática) e tentar encontrar diferentes formas e estratégias de transmitir “padrões de conhecimentos” e o ensino do Xadrez esteve, desta forma, sempre dentro de mim. Quando me inscrevi, em 1990, na Escola E.B. 2,3 João de Meira, o professor João Andersen (o meu 1º treinador) encaminhava-me os “casos mais difíceis” encarando esta tarefa como um desafio às minhas capacidades didácticas! Fui o seccionista mais novo de sempre do mítico clube Círculo Arte e Recreio, com apenas 15 anos, onde consegui com um orçamento de zero escudos patrocínios de várias entidades locais assegurando a sobrevivência do clube. A par com o meu colega seccionista, Vítor Matos, organizamos o Campeonato Distrital Absoluto (1993) com o patrocínio da empresa “Águas da Penha” e da Escola Secundária Francisco de Holanda - Guimarães (cedeu as instalações, pagou os prémios, registos de partidas, cartazes…). Escrevia numa máquina de escrever duas vezes por mês notícias e entregava em mão aos jornais e rádios locais e desta forma o Xadrez em Guimarães esteve sempre em dinamismo! A par desta situação ajudei a minha mãe, professora do 1º Ciclo, nas suas turmas (1993-1995) ensinando Xadrez e tentando incutir conceitos matemáticos e abstractos nas suas aulas, quando não se falava de Actividades de Enriquecimento Curricular, hoje obrigatórias em todas as Escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico!
Todavia, no início do NXVSC - Didáxis tive a dupla função de jogador (1º tabuleiro) e dirigente, o que era muito desgastante, mas compensador com as vitórias que íamos obtendo onde destaco a conquista do mais alto título distrital colectivo em 2006: Campeonato Distrital Absoluto (equipas). Nos dias que correm sinto que já não sou necessário no tabuleiro, em termos competitivos, podendo canalizar as minhas energias para aquilo que inicialmente me propus: promover a implantação do Xadrez em Vila Nova de Famalicão e proporcionar aos meus atletas as melhores condições para a prática do Xadrez na participação em Torneios Nacionais e Internacionais.

JP: Sempre foste um entusiasta do xadrez. O que pensas que te faltou quando eras jovem para teres dado um salto qualitativo importante?

R: Faltou-me alguém como eu! (risos)
Agora mais a sério… (pausa)
Faltou-me jogar (mais, muito mais) partidas lentas, pois quando era jovem apenas se jogavam ao fim de semana torneios de Semi-Rápidas / Rápidas.
Jogar um torneio de lentas era um acontecimento quase impossível, exceptuando o Torneio Interno do Clube, Distritais Absolutos, Nacionais de Jovens, Nacionais por Equipas e Taça de Portugal.
Depois sem as novas tecnologias sentia-se um handicap muito grande na análise e preparação de partidas.
Como as minhas energias desde cedo se canalizaram para o dirigismo e formação nunca pude investir como devia no desenvolvimento da minha força de jogo. No entanto, “O Meu Sistema, Aron Nimzowitsch” é um livro que foi lido e aplicado, várias vezes, nas minhas aulas e partidas. Como tudo na vida: “temos de semear para podermos colher”!

JP: Se não estou em erro formaste o teu clube há 6,7 anos. Tem correspondido às expectativas? O que achas que falta para poder chegar ao nível de por exemplo, um Dias Ferreira?

R: Acima das expectativas claramente. A Escola onde lecciono está enquadrada num meio socialmente desfavorecido, onde o projecto Xadrez tinha tudo para falhar! Foram precisos dois anos para convencer o Director Pedagógico da minha Escola em investir 200 euros em material (Jogos, Relógios, Folhas de Anotação…) e inscrever os alunos na vertente Desporto Escolar.
Passados dois meses de divulgação, contando com o apoio da AXDB, através do professor Fernando Castro, e do inigualável seccionista do Grupo Desportivo Dias Ferreira, Vitorino Ferreira, organizei o 1º Torneio (I TORNEIO DO VALE) no último dia de aulas do 1º Período no ano lectivo 2003/2004 que foi um êxito em termos de participação: 112 alunos!
Em Abril de 2004 acolhemos a Final Distrital Escolar com a participação de 180 alunos das Escolas do Distrito de Braga constituindo um acontecimento de boa propaganda para o desenvolvimento do Xadrez na nossa Escola.
Do Desporto Escolar ao Federado foi um pequeno passo com a organização de vários torneios de lentas, promoção de treinos com jogadores mais experientes, intercâmbio entre clubes nomeadamente o GDDF, o que proporcionou aos nossos atletas um desenvolvimento mais rápido da sua força de jogo.
O GDDF é um projecto em que se vive o Xadrez 24 horas diárias, enquanto que o clube que eu dirijo está inserido numa Escola e dificilmente atingirá o patamar deste importante clube matosinhense. Como diz na gíria escaquistíca: “Vitorino só há um, ele e mais nenhum!”… (risos)

Na altura de ingresso no ensino superior abandonaste temporariamente a modalidade. Pensas não ser compatível, os estudos e o xadrez competitivo?

R: O meu abandono deveu-se a outra paixão: a música. Quem me conhece dos Nacionais de Jovens de Xadrez sabe que levava comigo a minha companheira de sempre: “A minha Guitarra”… Na Universidade proporcionou-se a criação (1999) de uma banda, F.R.E.I., em que eu era o letrista e vocalista culminando com a vitória num concurso de bandas e gravação de uma maquete (2003). Após a separação traumatizante (risos) dos membros da banda decidi investir no Xadrez, já que podia conciliar este amor com o meu outro amor: o ensino da Matemática!
Portanto, foram as circunstâncias da vida que me fizeram abandonar temporariamente a modalidade…

JP: Relativamente ao xadrez nacional, o que pensas que pode ser feito para uma maior evolução? O que tens feito tu na própria associação distrital para que essa evolução seja notória?

R: Como já disse é necessário que os jogadores disputem (cada vez mais) partidas lentas, façam uma análise individual e em grupo das mesmas e só deste modo poderá haver uma evolução notória e consistente. Desta forma, penso que é necessário que os Clubes, Associações Distritais e a própria Federação promovam a evolução do Xadrez com base neste denominador comum: promoção e organização de Torneios de Lentas.
A nível da AXDB promoveu-se na passada época competitiva treinos da Selecção Distrital de Jovens, elaboração de um ranking da Selecção Distrital de Jovens sendo atribuído um prémio de 65 euros aos dez primeiros classificados (pode ser descarregado por este link), apoio à organização de Torneios Fechados FIDE nos clubes (só no meu clube organizei dois torneios fechados com 10 e 12 jogadores, respectivamente), lançamento do Anuário de AXDB (da minha autoria podendo ser consultado em: Consulte o Anuário aqui), organização do I Festival de Xadrez do Minho que promoveu a aprendizagem da prática do Xadrez a centenas de crianças de Escolas do 1º Ciclo do Distrito de Braga e um apoio constante a todos os Clubes de Desporto Escolar (cedência de material e formação técnica) do Distrito para que se possam criar condições de criar um clube federado…

JP: Imagina que és eleito Presidente da Federação. Quais são as tuas primeiro cinco medidas?

R: Não há imaginação que encaixe esse cenário na minha realidade! (risos)
Só tomava uma medida: profissionalizava o dirigismo desportivo em termos federativos, tal como em outras Federações com estatuto de utilidade pública desportiva.

JP: Achas que existem condições no nosso país para se poder atingir um nível mais elevado? Pensas que os pais estão preparados para investir nos filhos se necessário for?

R: Penso que sem a primeira medida acima enunciada o nosso país dificilmente atingirá um nível mais elevado…
Relativamente à segunda questão, os pais, na sua generalidade, ainda não vêem o Xadrez como uma modalidade que valha a pena investir. No entanto, percebo as suas atitudes face ao panorama competitivo existente!
No que concerne, aos Encarregados de Educação dos alunos do NXVSC - Didáxis tenho que lhes prestar a minha homenagem, pois desde o primeiro dia têm sido incansáveis em todas as formas de apoio para a expansão e afirmação deste jovem clube no panorama escaquístico nacional! Aproveito a oportunidade para agradecer o contributo da Cooperativa de Ensino Didáxis, da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, bem como, do apoio institucional da Associação de Xadrez do Distrito de Braga no desenvolvimento do Xadrez no Concelho de Vila Nova de Famalicão.

Perguntas rápidas
Decisão mais difícil que tomaste enquanto director do teu clube: Ainda não a tomei!...
Melhor amigo do xadrez: José Curado (Que é feito de ti Engenheiro?) e Vitorino Ferreira & Co (eles sabem quem são!)
Vitória mais marcantes: João Andersen (1995) no Torneio Interno do CAR: “o aluno superou o Mestre!”…
Melhor torneio: Campeonato Nacional de Jovens Sub-20 (1998), 8º lugar.
Derrota mais dolorosa: Nuno Cachada (1995). Ao perder um jogo mais do que ganho perdi a oportunidade de vencer o Torneio Interno do CAR.
Maior alegria que um jogador do teu clube te proporcionou:
João Pedro Costa Ribeiro sagrar-se Campeão Nacional Escolar (2005) na Benedita.
Foi um momento mais emocionante para mim do que para ele (risos)
Para terminar gostaria que deixasses uma mensagem a todos os dirigentes da modalidade.
É importante fazermos o melhor que sabemos e não aquilo que nos convém.
Há outra citação, também, da minha autoria que gostaria de partilhar:
-De que vale haver Vento se não temos Rumo!


terça-feira, 27 de outubro de 2009

Entrevista a Ana Ferreira

Seguindo na onda de falar com as meninas mais bonitas do xadrez luso, tenho o prazer de anunciar que a próxima entrevistada seria provavelmente eleita a Miss sensualidade do xadrez nacional.
Obrigado por teres aceite o convite Ana Ferreira. Espero aumentar o número de visitantes graças a ti :)

José Padeiro (JP): Vou começar por uma pergunta que te certamente irá deixar embaraçada. Sentes feedback do que eu disse em relação à tua sensualidade no meio da comunidade do xadrez, ou pensas que é exagero da minha parte?
Ana Ferreira (AF): Bem vou começar por responder duas vezes que sim: que esta pergunta me deixa embaraçada e também que me parece exagero de tua parte. Em geral as pessoas são simpáticas e amáveis, tanto os jogadores do sexo masculino como feminino, e penso que neste meio a aparência acaba por não algo realmente importante, mas sim as atitudes no jogo e fora dele.

JP: Como classificarias o xadrez feminino? Pensas continuar a jogar depois de constituir família? Pergunto isto porque praticamente não existem jogadoras com mais de 30 anos. Dá que pensar, não achas? O que pensas sobre toda esta temática.
AF: Acho que o xadrez feminino é algo que realmente importante para a modalidade e que precisa de ser desenvolvido, é importante que surjam mais jogadoras. Penso que o xadrez beneficiava a todos os níveis com este facto, mesmo a nível administrativo, o toque feminino é algo que faz sempre falta e sem dúvida que traz um equilíbrio a este mundo cheio de homens.
Claro que não se sabe o futuro, mas tenho o objectivo de continuar a jogar xadrez mesmo depois de constituir família. Sou apaixonada pelo jogo, acho um desporto mesmo interessante e importante, e pretendo ajudar a melhorar o que não está tão bem na modalidade em Portugal. Tenho objectivos bem definidos, gostava de pertencer à federação um dia, ou ter um clube próprio. Acabam por ser sonhos, mas completamente possíveis de realizar pois só dependem de mim!
Mesmo assim, compreendo que talvez esta minha visão possa ser um pouco ingénua. Mas quem sabe, a mulher está a ganhar cada vez mais um papel mais activo na sociedade e a tornar-se mais independente e acredito que seja possível conciliar a vida familiar com outros propósitos. Hoje em dia penso que a maior razão para que as mulheres com mais de 30 anos não joguem deve-se ao facto de a mentalidade de antigamente ser muito do género “Ah a esposa deve tratar a casa, cuidar dos filhos, fazer o jantar”. Isto está a mudar e penso que isso é óptimo.

JP: Qual é a tua meta no xadrez? Estás satisfeita com o nível atingido ou acreditas que podes ainda atingir uma meta de maior relevo no seio da modalidade?
AF: Sem dúvida que não estou satisfeita, e a minha maior meta (e mais uma vez posso dizer sonho) ser Campeã Nacional Feminina. Para tal claro que tenho de me esforçar, estudar e jogar torneios, mas nem sempre consigo conciliar o xadrez com a faculdade. O resto acho que virá por acréscimo, mais uma vez tudo depende de mim, da minha dedicação.

JP: Penso estar certo quando digo que jogaste o torneio mais duro da tua carreira este ano na 1ª divisão. Que impressões e ensinamentos retiras dessa prova? Achas que foi benéfico?
AF: Foi uma prova que aprendi bastante, e chego à conclusão que não estava nada preparada para enfrentar um torneio deste género. Os jogos que joguei foram muito interessantes, e conviver com jogadores com um nível tão superior ao meu foi sem dúvida enriquecedor. Lidar com o psicológico de tantas derrotas, o sentido de apoio e espírito de equipa foram situações que sem dúvida me ajudaram a tornar-me uma jogadora melhor. Foi sem dúvida benéfico e gostaria de um dia de voltar a participar nesta prova, mas desta vez pelo menos com melhores resultados individuais.

JP: Voltando mais atrás historia o processo que te lançou na modalidade? O facto de ter muitos rapazes foi decisivo? Achas que é um factor decisivo para o grosso das jovens que praticam a modalidade?
AF: O meu pai ensinou-me a mim e aos meus irmãos como se movimentavam as peças numas férias de verão no Algarve, e mais tarde o meu irmão começou a jogar federado em Aveiro no 1º Passo. Depois mais tarde, eu e a minha irmã entrámos também no clube e nas aulas do Dinis e daí foi um passo para começarmos a jogar federado, a participar nos campeonatos de jovens, a fazer amizades vitalícias e, bem, nunca mais deixámos de jogar!
O facto de ter muitos rapazes não influencia em nada o facto de gostar da modalidade, é algo que me é praticamente indiferente. E também, das raparigas que conheço, penso que não é um factor decisivo para as praticantes femininas. Podia realmente ser um chamariz para termos mais senhoras a jogar, mas infelizmente isso ainda não se verificou para já.

JP: De 0 a 10 que importância dás ao xadrez na tua vida? Se tivesses 3 desejos nos quais só pudesses utilizar exclusivamente para melhor tecnicamente no xadrez, que pedirias?
AF: Na minha vida, diria que a importância do xadrez na minha vida é elevada, por isso escolho 8. O xadrez abriu-me portas importantes, estou envolvida em organismos administrativos onde estou sempre a aprender e a desenvolver novas capacidades, e também dou aulas a crianças, e isso sem dúvida que é uma paixão para mim.
Dos 3 desejos, pediria que melhorasse a minha táctica (as vezes tenho falhas muito graves), e que melhorasse a nível de aberturas e finais. Penso que sem dúvida que isto ajudava em muito a qualidade do meu jogo!

JP: O ano passado foste vice-campeã nacional. Achas que podias ter aproveitado para um maior impulso na tua carreira, ou pensas que foi obra do acaso?
AF: Penso que ainda posso aproveitar este resultado, pois pensar nisso ainda me dá muita motivação e mostra-me que sou capaz de chegar mais longe, tanto a nível de elo como de resultados obtidos.

JP: Como comentas as eleições de sábado?
AF: Tenho de ser sincera e dizer que esperava que obtivéssemos mais votos, e acabei por ficar surpreendida pois estava a espera de uma melhor adesão por parte dos jogadores. De qualquer modo, foi óptimo a minha lista ter eleito 2 delegados, e devo dizer que gostei da experiência de pertencer a uma lista, que achei ser uma lista interessante. Parabéns à lista da Ariana, que foi a clara vencedora, apesar de não concordar com uma lista só de mulheres, pois acho uma lista equilibrada é uma lista com elementos dos dois sexos.

Perguntas rápidas
Sentiste-te prejudicada no caso das Olimpíadas?
Sim, mas a Bianca foi a principal prejudicada.
Melhor pessoa do xadrez: Bem, eu responderia Susana Ferreira, mas como é da família possivelmente não conta. Melhor pessoa do xadrez que eu conheço é o Ricardo Margarido.
Pessoa mais importante na carreira: Francisco Castro
Melhor vitória: Não foi tanto pela vitória em si, mas foi o que me levou a conseguir o resultado final: foi contra a Agna Gabriel, no Campeonato Feminino do ano passado, na última sessão.
Melhor torneio: Campeonato Nacional Feminino 2008
Derrota mais dolorosa: Quando perdi com o Carlos Duarte, no meu penúltimo nacional sub-20. Se ganhasse seria campeã feminina.

JP: Deixa uma mensagem aos teus fãs espalhados por todo o Portugal e quiçá além fronteiras.
AF: Espero que continuem a jogar, e que cada vez se interessem mais por melhorar este nosso desporto de eleição, tanto a nível xadrezístico como a nível administrativo. Vamos fazer o 25 de Abril do xadrez? :)

Entrevista dedicada ao José Margarido, apesar de não ser com a pessoa que ele queria!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Obrigado Jorge Ferreira!

Este agradecimento não é pelo recente feito do Jorge. Primeiro, porque era uma questão de tempo até tal acontecer, segundo porque é simplesmente mais um passo rumo à caminhada ao título de Grande-Mestre.

O motivo de tal agradecimento é mais profundo. A ascensão do Jorge faz-nos sonhar e acreditar que a recompensa do trabalho árduo, mais tarde ou mais cedo aparece. Faz-nos acreditar que felizmente o xadrez jogado, ainda não foi ultrapassado pelo xadrez falado!

Por isso, e por todas as tuas qualidades, principalmente a extrema humildade, obrigado Jorge!

O xadrez jovem português agradece também uma referência deste quilate!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Entrevista a Ariana Pintor

Vamos iniciar uma série de entrevista no qual o objectivo será dar a conhecer as personalidades mais importantes do xadrez português. Para começar resolvi por entrevistar Ariana Pintor uma das melhores jogadoras portuguesas e concorrente à eleição de delegados para a Assembleia Geral da FPX. O objectivo é entrevistar uma personalidade quinzenalmente.

Obrigado por teres aceite o convite Ariana. A 1ª pergunta vai-te certamente fazer pensar.


José Padeiro (JP): Quem é Ariana Pintor no meio xadrezístico? Ou seja que imagem achas que passas para o vulgo jogador de xadrez português?
Ariana Pintor (AP): Penso que para o vulgo jogador de xadrez português, a Ariana Pintor é apenas uma miúda do Porto com jeito para o xadrez, que teve sucesso enquanto jovem. Neste momento, no entanto, acho que já sou um pouco diferente dessa miúda. Quem me conhece melhor, sabe que sou uma pessoa com muito interesse pelo xadrez, agora numa fase um pouco mais madura, que tenho muita vontade em fazer algo a nível do ensino, organização, desenvolvimento e divulgação da modalidade. Penso que o meu pico competitivo enquanto jogadora já passou, mas pretendo usar a minha imagem de jovem bem sucedida para promover o xadrez.


JP: Vamos começar pelo início. Quando começaste a jogar e porquê?
AP: Comecei a jogar com 5 anos. O meu pai ensinou-me junto com outros jogos, que costumávamos jogar em casa. Depois aos 8 surgiu a oportunidade de começar a jogar nos Gambozinos, e entrar em competições.


JP: Estás satisfeita com aquilo que já conseguiste no xadrez, ou desejas atingir mais alguma meta em especial?
AP: Em termos competitivos, estou bastante satisfeita. O título de campeã nacional penso que será a única meta especial que me falta no meu currículo enquanto jogadora. Também gostava de ambicionar ao título de Mestre Internacional Feminina, mas não é uma prioridade. A minha principal meta neste momento é motivar os meus alunos e contribuir para a minha equipa. A um nível mais geral, quero continuar a contribuir para a divulgação.


JP: O que tiveste que trabalhar para chegares a este nível? Achas que é mais importante o trabalho individual ou o acompanhado?
AP: Para chegar a este nível, tive que dedicar bastante tempo ao xadrez. Não digo que tenha tido que estudar muito ou perder muito tempo nos livros, porque não é verdade, embora tenha passado algumas fases em que estudava bastante. Também tive bastantes aulas. Mas penso que o mais importante para a minha evolução foi ter-me dedicado numa determinada fase (principalmente entre 2004 e 2007) à competição e ter aprendido com a experiência.
Quanto ao que é mais importante, penso que tem a ver com o estilo e personalidade de cada jogador. Em geral, diria que o trabalho individual é importante para aprender conceitos, por exemplo, estudar uma abertura, ou treinar o cálculo, mas o trabalho acompanhado também é muito importante para orientar, dar confiança e analisar os erros.


JP: Que importância das ao xadrez na tua vida numa escala de 0 a 10?
AP: A mesma que qualquer pessoa daria ao seu hobby preferido. 7, talvez?


JP: Tal como eu, fizeste uma lista para eleição de delegados para a Assembleia Geral. Podias-nos contar as tuas ideias e projectos? Que podem contar os jogadores de xadrez se fores uma das eleitas? Donde nasceu a ideia de tal candidatura?
AP: A ideia para a candidatura surgiu de várias pessoas que me sugeriram a formação de uma lista feminina. Achei boa ideia, e a partir daí, pus em marcha o processo. Se for eleita, pretendo dar voz às nossas preocupações enquanto jogadoras femininas, como principal objectivo. Por exemplo, na última Olimpíada, foi inacreditável a atenção dada ao António Fernandes, que envolveu comunicação social e tudo, quando a nossa situação era muito mais grave. Por sermos menos, por termos menos voz, a nossa posição foi ignorada. Por isso achamos importante ter uma representante na Assembleia Geral, para impedir que tais situações aconteçam, ou pelo menos para que haja uma voz oficial que as faça ouvir.
Num âmbito mais geral, os jogadores de xadrez podem também contar com uma representante imparcial, com vontade de progredir em termos de organização do xadrez, de tentar resoluções para os conflitos e contribuir para uma política mais justa a nível da FPX. Apesar de, como já disse, o nosso principal foco ser o xadrez feminino, também tencionamos defender bastante o xadrez jovem, e o xadrez sénior de competição, que muito tem sido descuidado nos últimos tempos. Para além de representantes das jogadoras, também não descuidamos os problemas de todos os jogadores, em geral.

Perguntas rápidas
Pessoa mais importante na tua carreira: Para além do meu pai, Manuel Pintor, diria o António Fróis, e ainda o Rui Almeida, o Rui Pereira e o Vítor Guerra.
Melhor amigo do xadrez: Susana Ferreira, Ana Baptista, Margarida Coimbra, Catarina Leite. Grandes amigas, a diferentes níveis de proximidade.
Melhor partida: Ariana Pintor-António Vítor, AEJ 2007.
Melhor torneio: Benidorm 2006
Vitória que te deixou mais feliz: Zehra Topel-Ariana Pintor, Olimpíada de Calvià,2004.
Derrota mais dolorosa: Tive várias derrotas marcantes, mas talvez escolhendo uma em particular, contra o Carlos Oliveira em 2003 em Aveiro.

JP: Para terminar, que mensagem passavas aos jovens e principalmente às jovens que gostariam de singrar na modalidade?
AP: A mensagem que quero passar é: divirtam-se a jogar xadrez. Se gostarem, têm muito que aprender, que descobrir, que competir. Aproveitem enquanto são jovens, o xadrez pode-vos dar um grande prazer a nível da competição, é uma motivação e ajuda a nível da escola. Para as meninas em especial, há que vencer o preconceito e competir de igual para igual! Dá um gozo enorme ensinar aos rapazes que não é uma vergonha perder com miúdas…

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Nota editorial

Primeiro de tudo gostaria de saudar toda a comunidade xadrezística e não só. Este blogue tem como objectivos principais a divulgação de actividades e pensamentos, quer sejam sobre o xadrez ou sobre outra área que eu considero relevantes. Tentarei que seja um espaço diferente dos que já existem e ao mesmo tempo que possa ser útil a nível de informação e divulgação da modalidade. Gostaria de convidar todas as pessoas a imiscuirem-se neste espaço desde que tal seja feito com elevação.