quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Entrevista a João Barbosa

O meu próximo entrevistado é um antigo jogador da modalidade João Barbosa. Será provavelmente um nome desconhecido nos meandros do xadrez, mas o que é certo é que no Poker descobriu a sua área de eleição. Deixou o seu emprego para se tornar profissional e neste momento é seguramente um dos jogadores mais conhecidos da modalidade no nosso país.

José Padeiro (JP): João Barbosa, obrigado por teres aceite o convite. A minha 1ªpergunta é linear; Como é que um jogador completamente estagnado no xadrez é neste momento um dos jogadores do momento no poker português, tendo em conta ( opinião minha ), que é mais difícil chegar ao topo no poker que no xadrez?

R: Não concordo que seja mais difícil chegar ao topo no poker, são jogos com características muito diferentes e exigem também virtudes diferentes nos jogadores. A minha paixão pelo poker sempre foi muito mais forte e puxou muito mais por mim do que no xadrez onde tinha perdido a motivação para me dedicar nos últimos anos que joguei. Penso que o xadrez exige um estudo muito mais profundo e prolongado enquanto que no poker a evolução pode ser muito mais rápida porque não exige cálculos tão profundos, mas sim raciocínios mais abstractos por ser um jogo de informação incompleta.

JP: Jogaste xadrez, passaste pelo bridge e agora jogas poker. Que semelhanças encontras? Tens saudades de jogar xadrez ou bridge ou são mesmo etapas ultrapassadas?

R: O xadrez não me deixa muitas saudades. Sei que nunca chegaria ao topo e não me motiva jogar sem essa ambição. Com o bridge as coisas são diferentes, é um jogo que adoro mas que suspendi para me dedicar por inteiro ao poker, possivelmente voltarei ao bridge daqui a uns tempos.

JP: Explica-nos como começou a aventura do poker? Se tivesses que dividir a tua carreira em 5 passos como farias essa divisão?

R: É difícil escolher passos numa evolução que é contínua, mas de qualquer forma foi mais ou menos assim:
- Comecei por jogar fixed limit holdem em 2005, decidi encomendar uns livros online e a estudar o jogo
- Uns meses mais tarde mudei para jogar principalmente no-limit holdem, fundamentalmente torneios e sit&go
- 2007 Abriu o poker nos casinos em Portugal, rapidamente me tornei cliente assíduo no casino de espinho.
- Início de 2008, profissionalização e dedicação quase só a cash games de no-limit holdem online. em consequência dos bons resultados e das promoções oferecidas pelo pokerpt.com oportunidade de jogar torneios de elevado buy in, vitoria no unibet open de Madrid.
- Participação em todos os torneios da 5ª season do european poker tour, vitoria no EPT de Varsóvia e patrocínio da Full Tilt Poker.

JP: Descreve-nos um dia a dia do João Barbosa durante um torneio de poker? Fazes alguma preparação especial, ou esperas simplesmente que o teu talento desabroche nas mesas de poker?

R: Não faço preparação especial para além de gerir o meu descanso nos dias anteriores para estar nas minhas melhores capacidades e aguentar sessões que podem durar até 10 horas. Quando chego a fases adiantadas nos torneios internacionais, por vezes informo-me do background dos meus adversários para saber com que tipo de jogador devo contar.

JP: Existe alguma imagem de marca tua nos torneios? Já ouvi falar dum famoso bloco. Foi inovação tua? Em que consiste?

R: Por vezes utilizo um bloco para apontar as minhas jogadas durante um torneio, mas não creio que possa chamar inovação a um bloco, é em tudo semelhante a um jogador de xadrez apontar uma partida.

JP: Imagina que aparece alguém que te diz que quer viver do poker. Que sugestões /conselhos lhe darias?

R: Depende muito de que ponto essa pessoa queria partir, se já jogava e com que resultados. Mas de qualquer forma aconselharia muita prudência e um grande controlo da ambição para dar um passo de cada vez.

JP: Preferes jogar ao vivo ou pela net? Quais achas que são as grandes diferenças?

R: Jogo bastante mais online do que ao vivo, se tivesse que escolher jogaria só online porque pelo número de mãos e de torneios que se joga é mais fácil ter consistência. Também gosto de jogar ao vivo mas é sempre no espírito de não contar com nada e tudo o que vier é bom.

JP: Ficas triste de nunca ter atingido um nível mais alto no xadrez ou pensas que realmente não é o teu jogo?

R: Não fiquei particularmente triste porque sei que nunca tive a dedicação necessária para subir de nível e talvez realmente não fosse o meu jogo. Quando me senti a ficar para trás acabei por abandonar de vez porque não me motiva jogar sem ambição de ser o melhor.

JP: É natural que o teu nível de vida tenha subido com os diversos prémios que tens ganho. Notas diferenças no tratamento das pessoas? Achas que encaixaste bem nessa mudança, ou por vezes perdes a cabeça?

R: Sinto diferenças em vários aspectos, as pessoas no mundo do poker demonstram bastante admiração o que é uma sensação muito boa. Em relação aos prémios acho que nunca perdi a cabeça, claro que tenho mais facilidades e fui melhorando a minha qualidade de vida quando pude mas sem grandes exorbitâncias.


Perguntas rápidas:
Quantas horas estudas por dia?

Já não estudo muito no sentido de ler teoria e assim. O meu estudo actualmente incide mais na analise das minhas próprias sessões e na auto-crítica. Isso é uma constante, sempre que estou a jogar, sempre que acabo uma sessão.
Quantas horas jogas por dia na internet?
Nos dias que jogo é em média 4 ou 5 horas.
Melhor torneio (poker)
EPT de Varsóvia de 2008. Porque foi a minha maior vitoria
Pior torneio (poker)
World Series of Poker 2008. Porque foi o primeiro grande torneio que joguei e um dos que perdi mais rápido.
Momento que percebeste que o xadrez não era o teu jogo
Desde que subi de escalão especialmente para os sub-18 deixei de estar à altura da concorrência.
Melhor vitória (xadrez)
Campeonato distrital de sub-14.
Momento que acreditaste poder ser profissional de poker
Quando comecei a jogar no casino de espinho, e a ter resultados que rivalizavam por cima com o meu ordenado na altura.