quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Entrevista a Mário Oliveira

O nosso próximo convidado é o actual vice-presidente da Associação de Xadrez de Braga, Mário Oliveira, e responsável por um dos clubes mais activos do norte: o NXVSC –Didáxis ( Núcleo de Xadrez Vale de São Cosme - Didáxis) onde as actividades desenvolvidas podem ser consultadas em www.nxvscdidaxis.blogspot.com .

José Padeiro (JP): Obrigado por teres aceite o convite Mário.
A minha primeira pergunta vai-te certamente fazer pensar…
Quem é Mário Oliveira no xadrez português? Como te definirias, quer como pessoa, quer na envolvência da modalidade?

R:Mário Oliveira é um apaixonado por este jogo-ciência desde os 11 anos. Como jogador conquistei os títulos distritais jovens Sub-14, 16, 18 e 20 e no meu último ano Sub-20 (1998) obtive os meus melhores resultados: 8º lugar no Nacional de Jovens e 2º lugar no Nacional Universitário. Após essa época retirei-me ajudando ocasionalmente o meu irmão, Tiago Oliveira, na dinamização do Grupo de Xadrez Vila Pouca (Guimarães). Reatei esta paixão em 2003, fundando o Núcleo de Xadrez Vale S. Cosme - Didáxis.
Acima de tudo, sirvo (-me) (d)o Xadrez para cultivar amizades, caso contrário, já tinha desistido há muito tempo de promover esta mui nobre modalidade.

JP: Neste momento vês-te mais como jogador ou dirigente?

R: Claramente como dirigente! O “bichinho” de organizar torneios e formar novos valores escaquísticos esteve sempre dentro de mim… A minha cobaia foi o meu irmão que chegou a ser duas vezes vice-campeão nacional de jovens tornando-se uma referência no Distrito de Braga pelos resultados que alcançou a nível individual e colectivo. Sempre gostei de ensinar (sou professor de Matemática) e tentar encontrar diferentes formas e estratégias de transmitir “padrões de conhecimentos” e o ensino do Xadrez esteve, desta forma, sempre dentro de mim. Quando me inscrevi, em 1990, na Escola E.B. 2,3 João de Meira, o professor João Andersen (o meu 1º treinador) encaminhava-me os “casos mais difíceis” encarando esta tarefa como um desafio às minhas capacidades didácticas! Fui o seccionista mais novo de sempre do mítico clube Círculo Arte e Recreio, com apenas 15 anos, onde consegui com um orçamento de zero escudos patrocínios de várias entidades locais assegurando a sobrevivência do clube. A par com o meu colega seccionista, Vítor Matos, organizamos o Campeonato Distrital Absoluto (1993) com o patrocínio da empresa “Águas da Penha” e da Escola Secundária Francisco de Holanda - Guimarães (cedeu as instalações, pagou os prémios, registos de partidas, cartazes…). Escrevia numa máquina de escrever duas vezes por mês notícias e entregava em mão aos jornais e rádios locais e desta forma o Xadrez em Guimarães esteve sempre em dinamismo! A par desta situação ajudei a minha mãe, professora do 1º Ciclo, nas suas turmas (1993-1995) ensinando Xadrez e tentando incutir conceitos matemáticos e abstractos nas suas aulas, quando não se falava de Actividades de Enriquecimento Curricular, hoje obrigatórias em todas as Escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico!
Todavia, no início do NXVSC - Didáxis tive a dupla função de jogador (1º tabuleiro) e dirigente, o que era muito desgastante, mas compensador com as vitórias que íamos obtendo onde destaco a conquista do mais alto título distrital colectivo em 2006: Campeonato Distrital Absoluto (equipas). Nos dias que correm sinto que já não sou necessário no tabuleiro, em termos competitivos, podendo canalizar as minhas energias para aquilo que inicialmente me propus: promover a implantação do Xadrez em Vila Nova de Famalicão e proporcionar aos meus atletas as melhores condições para a prática do Xadrez na participação em Torneios Nacionais e Internacionais.

JP: Sempre foste um entusiasta do xadrez. O que pensas que te faltou quando eras jovem para teres dado um salto qualitativo importante?

R: Faltou-me alguém como eu! (risos)
Agora mais a sério… (pausa)
Faltou-me jogar (mais, muito mais) partidas lentas, pois quando era jovem apenas se jogavam ao fim de semana torneios de Semi-Rápidas / Rápidas.
Jogar um torneio de lentas era um acontecimento quase impossível, exceptuando o Torneio Interno do Clube, Distritais Absolutos, Nacionais de Jovens, Nacionais por Equipas e Taça de Portugal.
Depois sem as novas tecnologias sentia-se um handicap muito grande na análise e preparação de partidas.
Como as minhas energias desde cedo se canalizaram para o dirigismo e formação nunca pude investir como devia no desenvolvimento da minha força de jogo. No entanto, “O Meu Sistema, Aron Nimzowitsch” é um livro que foi lido e aplicado, várias vezes, nas minhas aulas e partidas. Como tudo na vida: “temos de semear para podermos colher”!

JP: Se não estou em erro formaste o teu clube há 6,7 anos. Tem correspondido às expectativas? O que achas que falta para poder chegar ao nível de por exemplo, um Dias Ferreira?

R: Acima das expectativas claramente. A Escola onde lecciono está enquadrada num meio socialmente desfavorecido, onde o projecto Xadrez tinha tudo para falhar! Foram precisos dois anos para convencer o Director Pedagógico da minha Escola em investir 200 euros em material (Jogos, Relógios, Folhas de Anotação…) e inscrever os alunos na vertente Desporto Escolar.
Passados dois meses de divulgação, contando com o apoio da AXDB, através do professor Fernando Castro, e do inigualável seccionista do Grupo Desportivo Dias Ferreira, Vitorino Ferreira, organizei o 1º Torneio (I TORNEIO DO VALE) no último dia de aulas do 1º Período no ano lectivo 2003/2004 que foi um êxito em termos de participação: 112 alunos!
Em Abril de 2004 acolhemos a Final Distrital Escolar com a participação de 180 alunos das Escolas do Distrito de Braga constituindo um acontecimento de boa propaganda para o desenvolvimento do Xadrez na nossa Escola.
Do Desporto Escolar ao Federado foi um pequeno passo com a organização de vários torneios de lentas, promoção de treinos com jogadores mais experientes, intercâmbio entre clubes nomeadamente o GDDF, o que proporcionou aos nossos atletas um desenvolvimento mais rápido da sua força de jogo.
O GDDF é um projecto em que se vive o Xadrez 24 horas diárias, enquanto que o clube que eu dirijo está inserido numa Escola e dificilmente atingirá o patamar deste importante clube matosinhense. Como diz na gíria escaquistíca: “Vitorino só há um, ele e mais nenhum!”… (risos)

Na altura de ingresso no ensino superior abandonaste temporariamente a modalidade. Pensas não ser compatível, os estudos e o xadrez competitivo?

R: O meu abandono deveu-se a outra paixão: a música. Quem me conhece dos Nacionais de Jovens de Xadrez sabe que levava comigo a minha companheira de sempre: “A minha Guitarra”… Na Universidade proporcionou-se a criação (1999) de uma banda, F.R.E.I., em que eu era o letrista e vocalista culminando com a vitória num concurso de bandas e gravação de uma maquete (2003). Após a separação traumatizante (risos) dos membros da banda decidi investir no Xadrez, já que podia conciliar este amor com o meu outro amor: o ensino da Matemática!
Portanto, foram as circunstâncias da vida que me fizeram abandonar temporariamente a modalidade…

JP: Relativamente ao xadrez nacional, o que pensas que pode ser feito para uma maior evolução? O que tens feito tu na própria associação distrital para que essa evolução seja notória?

R: Como já disse é necessário que os jogadores disputem (cada vez mais) partidas lentas, façam uma análise individual e em grupo das mesmas e só deste modo poderá haver uma evolução notória e consistente. Desta forma, penso que é necessário que os Clubes, Associações Distritais e a própria Federação promovam a evolução do Xadrez com base neste denominador comum: promoção e organização de Torneios de Lentas.
A nível da AXDB promoveu-se na passada época competitiva treinos da Selecção Distrital de Jovens, elaboração de um ranking da Selecção Distrital de Jovens sendo atribuído um prémio de 65 euros aos dez primeiros classificados (pode ser descarregado por este link), apoio à organização de Torneios Fechados FIDE nos clubes (só no meu clube organizei dois torneios fechados com 10 e 12 jogadores, respectivamente), lançamento do Anuário de AXDB (da minha autoria podendo ser consultado em: Consulte o Anuário aqui), organização do I Festival de Xadrez do Minho que promoveu a aprendizagem da prática do Xadrez a centenas de crianças de Escolas do 1º Ciclo do Distrito de Braga e um apoio constante a todos os Clubes de Desporto Escolar (cedência de material e formação técnica) do Distrito para que se possam criar condições de criar um clube federado…

JP: Imagina que és eleito Presidente da Federação. Quais são as tuas primeiro cinco medidas?

R: Não há imaginação que encaixe esse cenário na minha realidade! (risos)
Só tomava uma medida: profissionalizava o dirigismo desportivo em termos federativos, tal como em outras Federações com estatuto de utilidade pública desportiva.

JP: Achas que existem condições no nosso país para se poder atingir um nível mais elevado? Pensas que os pais estão preparados para investir nos filhos se necessário for?

R: Penso que sem a primeira medida acima enunciada o nosso país dificilmente atingirá um nível mais elevado…
Relativamente à segunda questão, os pais, na sua generalidade, ainda não vêem o Xadrez como uma modalidade que valha a pena investir. No entanto, percebo as suas atitudes face ao panorama competitivo existente!
No que concerne, aos Encarregados de Educação dos alunos do NXVSC - Didáxis tenho que lhes prestar a minha homenagem, pois desde o primeiro dia têm sido incansáveis em todas as formas de apoio para a expansão e afirmação deste jovem clube no panorama escaquístico nacional! Aproveito a oportunidade para agradecer o contributo da Cooperativa de Ensino Didáxis, da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, bem como, do apoio institucional da Associação de Xadrez do Distrito de Braga no desenvolvimento do Xadrez no Concelho de Vila Nova de Famalicão.

Perguntas rápidas
Decisão mais difícil que tomaste enquanto director do teu clube: Ainda não a tomei!...
Melhor amigo do xadrez: José Curado (Que é feito de ti Engenheiro?) e Vitorino Ferreira & Co (eles sabem quem são!)
Vitória mais marcantes: João Andersen (1995) no Torneio Interno do CAR: “o aluno superou o Mestre!”…
Melhor torneio: Campeonato Nacional de Jovens Sub-20 (1998), 8º lugar.
Derrota mais dolorosa: Nuno Cachada (1995). Ao perder um jogo mais do que ganho perdi a oportunidade de vencer o Torneio Interno do CAR.
Maior alegria que um jogador do teu clube te proporcionou:
João Pedro Costa Ribeiro sagrar-se Campeão Nacional Escolar (2005) na Benedita.
Foi um momento mais emocionante para mim do que para ele (risos)
Para terminar gostaria que deixasses uma mensagem a todos os dirigentes da modalidade.
É importante fazermos o melhor que sabemos e não aquilo que nos convém.
Há outra citação, também, da minha autoria que gostaria de partilhar:
-De que vale haver Vento se não temos Rumo!


2 comentários:

  1. Hehehehe..Não sabia que tinha sido tão dura a derrota!!!
    Lol...Não me lembro do Jogo, mas se estava completamente ganho é obvio que doi mais perder!!!
    Grande abraço Mario e espero que esteja tudo bem ctg!

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  2. Ja nao existem treinadores/professores assim...
    Um homem que se dedica a esta mui nobre arte apenas por devoçao....
    Obrigado
    Grande abraço

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