quinta-feira, 22 de abril de 2010

Medidas para melhorar o xadrez em Portugal

Neste momento o xadrez em Portugal padece de vários males. Os dois principais são visíveis: falta de fundos para investir e em consequência um quadro competitivo claramente insuficiente. Além disso o quadro existente não é adequado às nossas necessidades e realidades.
Sendo assim propunha estas medidas como forma de reabilitação do nosso xadrez.

1. Aumento das taxas de filiação
Eu sugeria um aumento significativo das taxas de filiação. 24 euros para os seniores, 12 euros para os jovens a partir dos sub-14, 4 euros para os restantes. Em contrapartida a Federação obrigava-se a entregar uma revista a cada jogar num determinado período de tempo a determinar.

Vantagens:
-A 1ª vantagem seria clara, o aumento de receita que poderia melhorar em quantidade e qualidade o quadro competitivo.
- Passar uma imagem que o xadrez é um desporto forte e que não é necessário quase que pagar para termos jogadores.
- A certeza que a revista iria ser bastante útil e consequente aumento técnico dos jogadores, principalmente dos jovens.

Desvantagens:
- Possivelmente a curto prazo o número de jogadores iria diminuir, mas não me conseguem fazer acreditar que quem realmente gosta do jogo, iria deixar de se federar por causa uma taxa de 2 euros por mês. Provavelmente a médio e longo prazo os jogadores que se iriam perder seriam recuperados.

Esta medida parece-me fundamental, neste momento não vislumbro outra maneira de a curto prazo angariar receitas que possam melhorar o nosso quadro competitivo.

2. Alterar o modelo dos Nacionais de Jovens
O actual modelo de Nacionais de Jovens está completamente desfasado do que deve ser um torneio de formação de jovens valores. Neste momento o que assistimos são a campeonatos de qualidade muito duvidosa, principalmente em escalões mais baixos, poucas rondas para determinar o escalonamento correcto dos valores e rondas duplas para aumentar o grau de lotaria. E compreensível que o Nacional de Jovens seja uma festa do xadrez em Portugal, mas é necessário encontrar um equilíbrio. O que eu propunha era uma fase final fechada entre os 8 primeiros classificados de cada escalão ( talvez nos sub-18 e sub-20 tal não se justificasse ).


Vantagens:
- Maior justiça na classificação
- No espaço que intermedeia a fase de apuramento e a fase final, os jovens teriam um incentivo extra para se dedicar ao jogo, e como consequência existiria um aumento do nível técnico.


Desvantagens:
- Os custos iriam aumentar, mas se não investimos nos nossos jovens, investimos em quem?

3. Apoios aos melhores Jogadores Nacionais
Esta medida é mais importante que as pessoas pensam. Não adianta formarmos jovens valores, e o valor médio do jogador em Portugal aumentar, se em contrapartida o que lhe podemos oferecer e 0 ou quase 0. Neste momento ironicamente é mais divertido ter 1600 que 2100, 2200 ou 2300 em Portugal! O motivo é claro, não existem torneios adequados para os jogadores dessa faixa de elo.
Os apoios podem ser de vários níveis, desde financeiros a participação em torneios com vista a obtenção de normas.


Vantagens:
- O nível em Portugal iria aumentar exponencialmente, e os nossos jovens iriam finalmente poder acreditar que existiria uma recompensa pelo trabalho.


Desvantagens:
-Não encontrei nenhuma.

4. Reformulação da 1 divisão Nacional por equipas
A 1ª divisão é um torneio aberrante. Não há que ter meias palavras. Qual é a lógica de durante 9 dias termos jogadores fortes a competir no nosso país se isso não traz uma mais-valia nem reflecte o estado do nosso xadrez? Serve somente para os dirigentes se vangloriarem que possuem uma equipa na 1ª divisão. Eu pessoalmente acho que os estrangeiros são úteis, mas é necessário existir um maior equilíbrio. Proponho o seguinte: todos os clubes da 1 divisão seriam obrigados a efectuar um torneio aberto em que seria necessário que os jogadores da equipa participassem.


Vantagens:
- Os jogadores fortes que participam na 1ª divisão, iriam realmente ser uma mais-valia para o xadrez nacional, porque iriam estar em contacto com os jogadores portugueses.
- Iria diminuir o número de clubes fantasma ( clubes que só têm actividade 9 dias por ano)

Desvantagens:
- Não encontro nenhuma, mas provavelmente a maior parte dos dirigentes dos clubes da 1ªdivisão vai-se opor. E muito mais fácil e mediático gastar dinheiro em jogadores por 9 dias, do que organizar um torneio para a comunidade.


P.S. Devíamos condecorar quem teve a brilhante ideia de aumentar o número de equipas na 1ª divisão, e a obrigatoriedade de possuir escalões de formação. Os resultados brilhantes estão à vista; homologação de torneios feitos à portuguesa, clubes a desaparecer, clubes da 1ªdivisão com faltas de comparência colectivas e individuais, 2 e 3 divisão com nível a decrescer e campeonatos distritais a esvaziarem. Deixo só esta interrogação: tem lógica haver tantas equipas na 1ªdivisão de xadrez como na de futebol? Fica para cada um a resposta.

5. Incentivos à organização de torneios de qualidade
Acho muito útil os torneios que são feitos para a massa crítica em Portugal, torneios direccionados para jogadores entre os 1400 e 1900, mas penso igualmente que é necessário existir um equilíbrio sob pena dos jogadores mais fortes se desmotivarem e irem simplesmente abandonando a modalidade. Dou um exemplo, no distrito onde eu jogo ( Porto ), existem imensos torneios de semi-rápidas onde os melhores jogadores nunca comparecem, e não vejo ninguém a preocupar-se com isso. Porque será? Acho que é fundamental o incentivo à qualidade seja ele de que maneira for feito. E necessário mais torneios como o da Figueira da Foz e Odemira!

6. Criação de departamento de Marketing e Comunicação na FPX
Depois de todas as outras medidas serem tomadas, a imagem do xadrez será mais forte e credível. Nessa altura será fundamental passar essa mesma boa imagem para o exterior, com vista a angariação de apoios que permitam manter ou aumentar o nível.

Nota Final:
Estas medidas não são assim tão difíceis de serem tomadas, é necessário ter coragem, acreditar que seguimos o rumo certo, e deixar de lado as vitórias pessoas e trabalhar em grupo para a vitória da comunidade.

terça-feira, 20 de abril de 2010

A cultura desportiva do nosso país e as suas consequências no Xadrez

Infelizmente o grau cultural do nosso país é baixo e isso acaba por se reflectir no desporto em geral, e no xadrez em particular.

A nossa cultura desportiva está unicamente vocacionada para o futebol, e mesmo dentro dessa modalidade praticamente só contam 3 emblemas. De quem é a culpa?


Os media são os grandes culpados. Se folhearmos um jornal desportivo, 80% é futebol e dentro dessa percentagem metade é concedida aos 3 grandes. Consequências?


Simples: os jovens crescem com histerismo relativamente ao futebol, serão provavelmente adeptos de um dos 3 grandes, tentarão ser jogadores de futebol, a maior parte não conseguirá, os outros desportos serão vistos como o patinho feio e continuarão a ser constantemente marginalizados .

Para mim é impensável que em cidades como Aveiro, Coimbra, Faro para citar alguns exemplos, o clube mais apoiado não seja o da terra, como também é impensável um jogador de futebol duma equipa da 2ªdivisão ser por exemplo mais conhecido que o Frederico Gil.

Agora vamos tentar situar o xadrez neste panorama desolador. Eu cada vez acho mais incrível o mau tratamento que é dada a modalidade por todos. Desde os agentes da própria modalidade ao exterior.

Comecemos pelos dirigentes; a maior parte desconhece a realidade da modalidade, porque não joga xadrez e também não se preocupa muito em conhecer. Muitos dirigentes novos que aparecem são pessoas com desconhecimento total da modalidade e horizontes limitados que se contentam em ser o melhor da rua deles. A partir daí tudo o resto tem grandes probabilidades de correr mal, porque infelizmente essa mentalidade é passada aos jovens que em tenra idade são bastante influenciáveis.

Os jogadores de topo em Portugal provavelmente resignados perante a míngua de apoios e cada vez com menos esperança nesta área vão definhando e jogando cada vez menos.

Os pais pensam que por uma vitória mais conseguida, os seus filhos já são futuros campeões. Mal eles imaginam que o caminho para o topo, exige muito trabalho e não segue uma linha recta.

Organizadores de torneios fortes praticamente não existem, porque o xadrez não é mediático e a partir daí entramos claramente num ciclo vicioso. Para podermos sair dele, só mesmo com um esforço extra de todos nós.
  • A Federação, como entidade máxima, deveria passar uma melhor imagem da modalidade quer interna, quer principalmente externamente. A única maneira de sair do marasmo é com um quadro competitivo forte e para tal são necessários apoios que só serão seguramente angariados com uma imagem duma Federação forte e capaz. Um bom departamento de Marketing e Comunicação é um investimento mais que justificado.

  • Os jogadores de topo têm que fazer um esforço para passar uma melhor imagem de si e da modalidade. Nenhum patrocinador vai querer investir em equipas que não dão o seu máximo e que não são profissionais no seu comportamento.

  • Os dirigentes têm que zelar pelo bem da comunidade em detrimento de vitórias fáceis e sem esforço e chegarem à conclusão que é mais importante ficar em 10º numa prova forte que ganhar a competição de caricas em pista coberta, passe o eufemismo.

  • Os jovens não podem pensar que por ganharem algo que o caminho está terminado, muito pelo contrário ele agora começou. Devem-se mentalizar para o trabalho duro. Aliás, não conheço mais nenhuma modalidade que é possível atingir algum nível com tão pouco trabalho efectuado. Em desportos como a natação ou o ténis por exemplo, são necessários horas e horas de trabalho árduo para poder chegar a um nível aceitável.

Eu pessoalmente não acredito muito na mudança, mas se queremos que o nosso querido desporto seja reconhecido pela sociedade cabe-nos a cada um de nós dar um pouco mais de esforço na consecução de tal objectivo.

Reactivação do Blog

Depois de um período de interregno, volto a activar um blog, com uma reflexão sobre o Xadrez em Portugal.